Perdão

Gabriela tinha chegado a poucos meses na loja. Era dinâmica, puxava bastante papo com os clientes. Se vangloriava e mentia tanto que ás vezes ninguém acreditava quando ela dizia ter ganhado de comissão em alguma venda. Adorava contar vantagens do passado e das outras lojas em que trabalhou. Mas o seu pior defeito era se meter na vida das colegas e dar palpites sem que alguém pedisse. E ela acabou sendo vista com a chata mor da loja, e o pior que ela nunca percebeu isso.

Semanas atrás ela começou a bisbilhotar a vida da gerente. E ouvindo daqui, comentando dali acabou por descobrir que a mulher havia sido traída pelo marido mas o perdoara. Claro que Gabriela foi logo forçando uma intimidade. Chegou na gerência quando não tinha ninguém foi puxando a cadeira e falando.

- Olha Renatinha, eu não tenho nada a ver com isso... Mas percebi o quanto você estava abatida. Querida, já passei por traição, o Maurício meu ex me colocou uma galhada. E o que eu fiz? Eu botei o filho da mãe pra fora de casa... Ah! Comigo não violão. Homem tem que ser tratado ali ... No cabresto. Não tem perdão. Afinal quando se trai, acaba a confiança e como viver sem confiar no marido? Não dou conta...

E Gabriela falava, gesticulava e dava mil e um exemplos de como era feliz no amor, de como controlava seus relacionamentos... Ela praticamente se sentia uma enciclopédia viva sobre o amor. E foram vários palpites e Renata calada ouvindo tudo. Por fim a gerente resolveu falar:

- Sabe Gabriela... Você tem sua vida, eu a minha... Você teve sua vivência mas não sabe como é dentro do meu lar ou dentro do meu coração. Às vezes a gente perdoa a pessoa porque a falta que ela faz em nossas vidas é muito maior que o erro que ela cometeu.

Gabriela engoliu seco, deu um sorriso amarelo e saiu sem dizer mais nada.