Alô, Mãe...

ALÔ, MÃE. . .

Bença.

As coisas por aqui estão bem diferentes de quando você partiu. Dizem que é uma tal de “evolução”. Não, mãe, não é “revolução”. E V O L U Ç Ã O! Isso: mudernismo, tempos mudernos. . . aquê’s trem muderno dimais da conta, sabe? Qui nem mulher dirigir automóvel. Menino não tomar bênção do pai. Cachorro freqüentar salão de beleza. Homem casar com homem e mulher casar com mulher. Não acredita? Eu sabia que você (perdão, mãe! “a senhora”) não ia acreditar, mas é verdade!

Vai virar uma mixórdia danada? Um qüiproquó dos diabos, né? É, também acho. . . Mas é a tal da evolução, mãe! Isso: coisas do capeta, pode ser!. . . Mas acho que até o vivaldino do Demo anda meio desacreditado por aqui. Seu prestígio milenar de Ser maléfico perdeu muito de sua importância. Já não o tratam mais como antigamente. Se entrou pra política? Ah! Isto, sinceramente, eu não sei. Mas não duvido. . .

Olha, mãe, parece que os homens andam meio “afastados de Deus”, como você (perdão, mãe, “a senhora”) costumava dizer. As leis de Deus? Que nada, mãe. . . Se não cumprem nem as que fazem. . . Só sabem “fazer” outras leis. “Cumprir” é um verbo que não se cumpre mais. As da Natureza? Já eram. . . Bem que ela insiste em mandar avisos de advertência, mas não entendem. Aliás, fingem que não entendem. . . Dizem que a Ciência explica tudo. Isso de terremotos, maremotos, furacões, ciclones, vulcões, secas angustiantes e enchentes destruidoras, a Ciência explica. Explica mas não justifica, porque pra justificar tem que mexer nos interesses de cada um. E o interesse de cada um é sagrado. Ah! Isto, sim, é “sagrado”!

Crimes? Nem fale!. . . Irmão matar irmão. . . É, sei que isto vem desde o princípio do mundo, quando Caim matou Abel. Só que naquela época não existia advogado de defesa, e, certamente, Caim deve ter pago caro pelo seu erro. Mas hoje. . . Agora, cá pra nós, mãe, filho matar pai, pai matar filho, aí já é abusar, né?

Mas deixemos de lado essas balelas e vamos falar sobre o dia de hoje: Dia das Mães. Sublime, né? Pelo menos devia ser. . . embora tenha lá seus objetivos mais comerciais do que de gratidão, vale a intenção. . .Preocupado, eu? Não, mãe, é que. . .deixe isso pra lá. . . tá bem, tô preocupado, sim. É que, no meu entender, os homens estão se supervalorizando demais. Estão sempre inventando alguma coisa. Agora arranjaram uma tal de “clonagem”, sabe, mãe. . . Um negócio esquisito, uma maneira de se reproduzir sem utilizar as vias naturais. Uma espécie de fotocópia do ser vivo, sabe? Se vão acabar com o “Dia das Mães”? Não, mãe, não se preocupe. Com o Dia não acabam nunca!. . .

E é por isso que,neste seu dia, seu e de todas as mães, em vez de “oferecer”, eu venho “pedir”: será que você (perdão, mãe, “a senhora”) poderia fazer mais uma coisa pra gente?. . .Não, mãe, deixe de modéstia! Eu sei que você (perdão, mãe, “a senhora”) tem cacife pra isso! É o seguinte: numa dessas reuniões de mães que vocês (mais uma vez, perdão, mãe, “as senhoras”) têm por aí, peça às Nossas Senhoras (a de Fátima, a de Guadalupe, a de Caravaggio, a do Carmo, a de Lourdes, a da Consolação, a Das Dores, a do Perpétuo Socorro, a Das Graças, a do Coração Eucarístico, a do Rosário, todas elas, enfim, e, principalmente, a da Aparecida, eleita pra governar este Brasilzão “deitado eternamente em berço esplêndido”) pra interceder junto ao nosso Chefão (desculpe a intimidade, mas eu sei que Ele vai entender!) no sentido de incutir mais responsabilidade na cabeça “científica” desses caras aqui do pavimento térreo. . . Mandar outro representante? Olha, pra dizer a verdade, acho meio arriscado. . .

Bem, a conversa tá boa mas tenho que me despedir . Vou almoçar com a mãe dos meus filhos, enquanto ainda podemos. . . E procure tranqüilizar o pai - que deve estar aí ao seu lado, querendo saber as notícias de cá - e que, ao saber desses acontecimentos, aparentando uma terrível desilusão, certamente irá dizer: . . . “é. . .nós tamo é no fim do mundo!”. . .

Então, bença, Mãe!

Alírio Silva
Enviado por Alírio Silva em 08/05/2014
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