Um hino ao único amor verdadeiro

Somente o tempo dá a resposta. Apenas ele, soberano e único, aponta caminhos, desfaz enganos, amadurece o olhar. O tempo dá espaço à compaixão, ao entendimento do outro, a compreensão da estrada da vida e dos seus infortúnios.

E, de vagar, a gente começa a aprender. Aprender que amor verdadeiro é dar a vida por completo ao outro. Todos os dias. Todas as noites. Em todas as estações. Dormir quando der, trabalhar à exaustão para que nada falte. Trabalhar para que o filho tenha a melhor comida, o melhor colégio, ter uma casa mais arrumada, o carro melhor para que os amigos do filho não zombem da situação. Longe de ser amor o simples estar bem, o conforto das ilusões, a facilidade das boas risadas juntos, o falar alto nas festas, a preparação de um churrasco. Isso é ótimo, lúdico, divertido, faz parte da construção da vida, deixa boas memórias... mas não é amor.

Amor é dar espaço dentro do próprio corpo para que a outra pessoa se faça, se avolume, crie formas, fisionomia, sentidos e sentimentos. E quando sai de dentro do ventre, deixa marcas, gorduras a mais, estrias, o corpo perde um bocado da sua beleza original.

E há de se ter tempo para o afago, para as mamadas demoraaaadas, as trocas das fraldas, tantas fraldas! E há de se ter paciência com o choro fora de hora, o regurgitar aquele gole a mais de leite, a dor de ouvido que produz choro forte.

E há de ser tudo. Entender de medicina, de psicologia, culinária, educação, higiene... todas as coisas têm que ser do conhecimento pontual de uma mãe, que só é menor que Deus.

E esse filho ou filha vai ganhando vida, alegria, saúde, conhecimento... vai ganhando espaço no coração e no planeta.

Muitas são as mães que vivem para os seus rebentos. Em todos os seus projetos de vida os filhos se encaixam. Em todos os sonhos, esforços, estudos, conquistas, desejos... lá eles marcam presença.

Tive o privilégio de ter três mães: a minha, original, que lutou com todas as forças para que eu enxergasse. Do ponto de vista físico, conseguimos, mas, o enxergar profundamente a alma humana, ter o entendimento das coisas da vida, ainda tento, ainda me rastejo. Dela herdei o valor ao conhecimento e ao trabalho, o respeito aos mais velhos e, recentemente, as lições de pintura em tela. Essa é uma das expressões mágicas da vida!

A tia Norma foi a segunda mãe, que me ensinou estar no mundo por inteiro, valorizando cada momento da existência.

A terceira foi a minha sogra. Ela me deu lições de realidade sem susto e nenhum medo. Com situações engraçadas e com muita valorização da família.

Mas o amor de mãe é tão absolutamente profundo e verdadeiro que também pode matar.

Conheci de perto algumas mães que morreram por amor.

A tia Norma morreu por amor. A pessoa mais especial, interessante, presente, inteligente, inteira que conheci morreu por amor. De tanto chorar e sofrer pelo filho mais velho que a abandonou e não atendeu mais as suas ligações telefônicas. E ela insistia, insistia em lhe falar , esclarecer um mal entendido tão banal que poderia até ter passado despercebido... mas ele jamais voltou a falar com ela. Num dia das mães, coincidindo com o aniversário dela, a tia Norma me disse que passaria o dia todo ao lado do telefone “esperando a ligação do meu filho”. Eu pedi a ela que não fizesse isso. Ela fez. O filho não telefonou. Meses depois, silenciosamente, ela partiu. Na pior dor de todas as angústias e de solidão absoluta.

A minha sogra também morreu por amor. Não suportou o câncer do filho mais velho. Nunca mais sorriu. Teve m AVC e partiu.

A minha tia Tereza igualmente morreu por amor, não suportando a doença degenerativa do filho caçula.

Mãe vive e morre por amor. E não reclama . Parece até que algumas partem para, do outro lado da existência, acolher o filho quando a hora chega. Ficam de prontidão lá, do outro lado, para que nada lhe falte, para que não tenha medo ou inquietação. Acolher na espiritualidade, abraçar, beijar muito, cheirar... sim, porque mãe cheira o filho e sabe que aquele açúcar que envolve a alma da cria é celestial, refinado e com o maior grau de pureza.

O brilho no olhar é tão intenso que ofusca qualquer outro sentimento, mas a opacidade da dor faz calar qualquer comentário, pois mesmo no silêncio, mãe ensina o respeito à dor alheia.

Se alguém desejar se sentir uma partícula infinitezimal de Deus, não há outra opção a não ser ter um filho e nada mais.

Um feliz dia das mães para todas nós.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 09/05/2014
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