É o que dá sentir!

A alegria de estar com ele era incontestável... Uma alegria que tomava o corpo e a alma, subia dos pés a cabeça e invadia a mente e o coração. Era um momento de acreditar em um sorriso singelo, um sorriso que reconheço de longe. O mesmo sorriso que sorrio agora.

Lembro sempre, quando volto para casa e só me resta mesmo as lembranças, do olhar profundo e que faz confundir o real e a fantasia. Lembro, dos beijos beijados com a mistura do amor e do sexo. Lembro-me de sentir a minha alma mais profundamente, de sentir que sou completa ali, mesmo sem ser. Lembro-me tanto que parece mesmo que vivo.

Quando lembro de tudo sentada no banco do ônibus de viagem, olhando para a paisagem mesmo sem vê-la por completo. É como se eu estivesse deitada em um lençol que cobre a grama do parque, ou mesmo em um banco de praça onde muitas pessoas passam e não me notam cheia de pensar, e um filme sobre mim mesma passasse para que eu o assistisse.

Mesmo que depois de horas, dias, noites, semanas, meses... Eu ainda guardo o cheiro do corpo, o gosto da boca e o som do coração pressionado ao meu peito. Guardo a sensação do cabelo macio em minhas mãos, das pernas entrelaçadas às minhas enquanto dorme... Guardo tudo em mim melhor do que guardam diamante raros por aí. É como se a vida passasse por mim e eu apenas estivesse deitada presenciando os fatos cheios de sonhos. E guardo tudo em mim, como se fosse para me cobrir da nudez que é viver sem sentir.

Eu não sei da parte dele, se vive sonhando ou se vive vivendo mesmo. Mas imagino, às vezes. Imagino que sonha como eu e que sente como eu. Eu não sei... E sei lá se quero saber. Talvez eu até saiba e não sei. Imagino tanto que chego a amar meus pensamentos. Às vezes desprezo-os, mas logo os amo novamente e sigo com eles, de mãos dadas como se esses pensamentos fossem amigos que me fazem pisar no chão e flutuar ao mesmo tempo. Imagino o bem. O mal também, mas esse eu logo desprezo para não perder a capacidade de viver de imagens imaginárias.

Hoje mesmo... É um dia desses. Um dia de voltar para casa com as lembranças amarradas por nós apertados, pela recente presença dos fatos, sentimentos e imagens criadas pelos fatos. Hoje é um dia frio, mas um dia que me aqueço com o coração e a sensação quente do sentir e do ter sentido a pouco tempo atrás. Um dia em que trouxe presentes materiais e imateriais... Os materiais me servem de abraços e os imateriais, de beijos lembrados. Hoje é um dia de recordar com doçura e fervura, o ontem que ainda nem passou... Ele ficou aqui mesmo, agarrado à minhas pernas mentais e emocionais.

Hoje é um dia de dormir e sonhar dormindo com a vivência que a vida e o propósito da vida me fez sentir: o amor. O amor é isso mesmo que sinto. O amor é não saber de nada, é se tornar um bipolar- e coitado de quem já é-, é dizer que odeia sem odiar, que quer mesmo sem querer. É confundir a cabeça e o resto todo. É um tal de sentimento malandro que entra e nem pede licença e ainda deixa a porta aberta para que o vento entre e atrapalhe o fogo que aquece o local.

E a alegria de estar com ele é incontestável mesmo... Sinto ainda. E agora as lembranças também são, por vezes, incontroláveis.

Agora, vou dormir que ganho mais. Vou dormir, pois já cansei de sonhar acordada. Irei sonhar dormindo e quem sabe, acordar com o mesmo sorriso singelo de algumas vezes felizes.

Bruna Gonçalves- 11/05/2014.