APELIDOLANDIA

APELIDOLANDIA

Diz o dicionário que apelido é sinônimo de alcunha, sobrenome, cognome. Mas no fundo, no fundo mesmo, eu acho que apelido é sinônimo é de criatividade. Na maioria dos casos, pelo menos, o apelido representa tão bem - ou até melhor - a coisa, o lugar ou a pessoa apelidada, quanto o seu próprio nome! Uma mulher que tenha apelido de “Bruaca”, por exemplo: dá pra imaginar que seja uma Claudia Leite? Ou uma Sandra Bullock?

Mas há também os cognomes que primam pela extravagância, como o de dois elementos que conheci em minhas andanças: um autêntico representante da raça albina, daqueles que têm dificuldade até para enxergar uma bola, com apelido de “Pelé” e um afrodescendente legítimo, lustroso, inquestionável, cuja alcunha era “Polvilho”.

E apelido é que nem boteco: tem pra todo lado. Aliás, chega a ser orgulho da população. Já morei em diversas cidades, diversas regiões, e, todas elas, sem exceção, é “a cidade que tem mais apelidos e mais botecos do mundo!”.

Dia desses me contaram uma história interessante sobre uma cidade dos apelidos, que, merecidamente, foi apelidada de “Apelidolandia”. Ali ninguém conhecia ninguém pelo nome de batismo. A começar pelo padre, que chamavam de “Coroínha”, fosse qual fosse o indivíduo: o apelido era do cargo, e não da pessoa. Delegado era sempre “Xerife”, e prefeito, “Zé Promessa”.. E se chegava algum novo morador, dentro de, no máximo, uma semana, estava “carimbado”. .

Foi aí que, numa cidade vizinha, surgiu uma aposta entre dois amigos: um garantiu que ficaria quinze dias em Apelidolandia e sairia sem apelido. . .

Fechado o negócio, depositado o dinheiro na mão de um terceiro, o candidato partiu para a aventura. Chegou, alojou-se num quarto no segundo andar do hotel assobradado (que, por ironia do destino, tinha o nome de “Hotel Esconderijo”) e se “fechou”. Café da manhã, levavam no quarto. Refeições, só descia para fazê-las quando já não havia mais hóspedes no refeitório. Contatos, só por telefone. A única manifestação que ousava cometer perante o mundo exterior era, à tardinha, abrir a janela, dar uma olhadinha na rua e fechar de novo.

E assim se passaram os angustiantes quinze dias. Estava ganha a aposta, vangloriou-se.

Chegando à cidade o outro contendor para constatar a veracidade da façanha, saíram às ruas. No primeiro boteco ao qual se dirigiram, exatamente em frente à janela do quarto onde se escondera durante o enclausuramento, a surpresa: “Doutor Rábula”, um advogado aposentado, frequentador assíduo do “Aguada”, que estava à porta balançando o copo de uísque, virando-se cambaleante para o interior do ambiente, exclamou radiante:

- Caramba, turma! O “Cuco” voltou!

alirio@uai.com.br

Alírio Silva
Enviado por Alírio Silva em 14/05/2014
Código do texto: T4806537
Classificação de conteúdo: seguro