Fotografia © Ana Ferreira

                                                                 (Publiquei esta crônica lírica pela 1ª vez em março de 2012)

 

  
 
TEMPUS FUGIT... O QUE SOMOS SENÃO O QUE JÁ VIVEMOS? 

 
Terra amada - meu poema de saudade, meu diário e eterno retorno - sento-me à tua mesa e durmo debaixo do teu teto, porque é de ti que me vem o perfume do jardim da infância e os tempos felizes que se perderam nos oceanos do meu tempo. 
Não há sonho onde não estejas presente! 
Não há pensamento onde não repouse o teu carinho criador.

Tu dás-me a paz e o descanso. Tu descerras na vastidão da terra 
a carne transcendente, e em ti principiam e terminam todos os elementos. 

Minha memória perde em suas brumas os aromas da flor da amendoeira, das mimosas amarelas, das rosas de maio, da giesta em flor, da urze, do rosmaninho, do alecrim da serra, 
e de todos os frutos maduros que outrora colhi. 
Teu cheiros, ruídos e sabores; tuas águas, árvores e bichos; tuas estrelas, sóis e luares estão em mim como a vida e sobre cada coisa demoro meus silenciosos e frágeis instantes. 

O tempo voa... O que somos senão o que já vivemos...?
Apesar da distância, repões diariamente a tua força maternal
e sinto que tudo sempre 
circulará entre o teu sopro e o teu amor.
Todas as coisas me nasceram de ti, como as flores nascem nos campos fecundos, e assim como as tuas raízes estão profundas nas pedras, tu és pedra enraizada profundamente em mim. 
És a minha terna e eterna eternidade e peço ao vento que me traga,
em 
silêncio, o silêncio das tuas palavras; 
que me traga as tuas frescas e serenas madrugadas; 
que me traga do espaço a luz inocente das estrelas da infância;  
que me traga dos teus céus o voo das andorinhas; 

que me traga a saudosa cantiga das águas do meu rio; 
o relinchar dos cavalos; o chilreio dos melros, dos rouxinóis,
dos grilos, das cigarras... 

Minha saudade devora o azul do teu mar e o verde do teu solo! 

Minha Terra, meu sol quente, meu inverno frio...
Cantinho abençoado da minha alma, e
m cada suspiro da memória. 
E sempre pedirei ao vento: traz-me a frescura da água das fontes, o cheiro da terra molhada; da grama acabada de cortar! 

O tempo voa... O que somos senão o que já vivemos...?
Fecho os olhos e entre o teu norte e o teu sul, entre o teu leste
e o teu oeste descanso meu pensamento...

Ainda sei exatamente o lugar em ti onde o sol nasce e se põe
no horizonte e 
onde os ventos dos quatro cantos da terra
se reúnem para cantar. 

E quando o sol da minha vida se puser, que no teu céu,
terra amada, 
a luz inocente das estrelas brilhe em meu lugar...
 
 
Um pouco mais sobre Tempus Fugit
Tempus fugit é uma expressão latina que significa  "o tempo foge", 
ou "o tempo voa". Teve sua origem na obra Geórgicas, do poeta latino Virgilio (Publius Virgilius). 
"Sed fugit interea,  fugit irreparabile tempus.”  
(Ele foge, irreversivelmente, o tempo foge). 
 
 
(17/03/2010)
Ana Flor do Lácio

 
Ana Flor do Lácio
Enviado por Ana Flor do Lácio em 19/05/2014
Reeditado em 19/05/2014
Código do texto: T4812643
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