C.q.d!

Um dos grandes flagelos da minha presente encarnação foi ter estudado Matemática. No primário, a minha única nota vermelha me provocou um acesso de choro e, na frente da minha avó, eu me debulhava em lágrimas sem fim. O ginásio, o colegial, o vestibular o suplício foi incomparável em se tratando dessa matéria.

Quando do meu vestibular, no nascimento da FUVEST, tivemos a prova em duas fases. Quando me deparei com a prova escrita de matemática, eu nem lia os enunciados e tratava logo e fazer algum gráfico, multiplicar a equação por -1, mudava todos os sinais e, no final, escrevia C.Q.D.!, que o meu professor de ginásio dizia: “Como Queríamos Demonstrar!”. Eu preferia ler diferente: “Caramba, Que Desgraça!”

Olha só a definição que encontrei na Internet:

“Em matemática, uma prova é uma demonstração de que, dados certos axiomas, algum enunciado de interesse é necessariamente verdadeiro. Utiliza como base premissas intrínsecas a um modelo conceitual e um silogismo que, a partir de uma série de operações, chega ao resultado. Costuma-se marcar o final de uma prova com a abreviação c. q. d. (como queríamos demonstrar)”.

Resultado: não entendi bolacha.

Lendo hoje uma matéria na UOL, cuja compreensão me pareceu mais difícil que o axioma, quer dizer, as premissas intrínsecas ou o silogismo, essas coisas de Euclides ou Pitágoras...não sei, estava lá:

“Os black blocs, que executaram as ações de grande repercussão do ano passado, continuam fora do radar da polícia, e prometem transformar a Copa do Mundo "num caos". Para isso, alguns deles esperam que o Primeiro Comando da Capital (PCC), a organização que domina os presídios paulistas e emite ordens para criminosos soltos, também entre em campo. Não se trata de uma parceria, mas de uma soma de esforços”.

Preocupados com sua imagem perante a opinião pública, decidiram falar, pela primeira vez. "Vamos estourar de novo agora", promete o mais veterano deles, de 34 anos, formado em História na USP e com matrícula trancada no curso de Psicologia”.

Antes que a minha pressão arterial passasse dos 22 por 10, resolvi escrever.

Como pode alguém pensar, em sã consciência, que existe alguma coerência em se manifestar dessa forma, assim tão violenta?

Contra a Copa, amiguinhos, vocês deveriam, então, ter saído às ruas e se manifestado tão logo se falou em apresentar o Brasil como possibilidade de sediar o Mundial. Agora????? Vocês estão bem atrasados e só estão se prontificando a mostrar ao mundo que somos um bando de irresponsáveis, idiotas e chorões.

Esse veterano citado na matéria não tem noção do que seja vergonha na cara. Estudou numa universidade pública, elitista, espaço para poucos ainda. Provavelmente seja um sujeito cheio de privilégios, até porque tem em vista uma segunda graduação. Querido, por que você não vai trabalhar, hein tetéia??? É. Trabalhar e ajudar a engrandecer esse país.

Você prefere “esperar ordens de bandidos”??? Eu li direito?

Com toda a honestidade, estou farta de tanta irresponsabilidade , de tanta conversa mole.

Um país se forja com homens e mulheres prontos para a construção, para a árdua tarefa de erguer um espaço com dignidade, construindo soberania, cultura, progresso e respeito.

Estou desolada com as manifestações contrárias a um evento que poderia ser significativo para mostrar o Brasil ao mundo como um espaço de pessoas civilizadas e que buscam avanços em todas as esferas. Não pessoas servis. Mas um país de pessoas que buscam direitos, cidadania, menos disparidade, menos desigualdade, menos roubalheira. Pessoas que sofrem, são exploradas, historicamente enganadas pelos donos do poder, mas que querem mudanças concretas e não simples destaque na mídia que se nutre de sensacionalismo.

Então, uns tantos preferem se juntar aos bandidos e mostrar a insatisfação pelos erros absurdos e redundantes e querem padrão Fifa prá isso e prá aquilo.

Tentem primeiro mostrar um alto padrão em conduta moral para poder aparecer depois na mídia, gente. Primeiro, pegando o dicionário – pode ser o Aurélio,o Houaiss, o Caldas Aulette, qualquer um, mas pegue e procure os seguintes verbetes:

- Ética. – Dignidade. – Respeito. – Moral. – Nação. – Direito. – Dever. – Responsabilidade e outros verbetes que podem ajudar no entendimento de alguma coisa.

Tempos atrás eu li que prostitutas do Rio de Janeiro e de outras cidades-sede estavam se matriculando em cursos de Inglês para melhor atenderem os seus clientes durante a Copa ... Garotas, me desculpem a intromissão, mas se vocês têm tempo, dinheiro e disponibilidade para aprenderem um idioma, que tal usarem esse conhecimento para uma mudança de paradigma, buscando novas possibilidades de trabalho com dignidade? (olha aí o dicionário de novo.)

Se eu pudesse dizer a esses Black blocs, eu diria: tirem a máscara e tratem de ser pessoas. Pessoas inteiras, com nome e sobrenome, trabalho, honra, esforço, pacíficos sem serem passivos, questionadores, capazes de irem à luta pelos direitos sem perderem, nem de longe, o respeito pelo país.

O Brasil, apesar de uma sofrível construção histórica, merece ser burilado, talhado com esmero. É a nossa casa. O nosso chão. Aqui, um dia, os nossos ossos vão descansar. E o dos nossos filhos também. E se a gente honrasse o país? Ele seria melhor, sem dúvida.

Tirem as máscaras e se tornem homens e mulheres! Apoiando ou não a Copa, é hora de, ao menos, respeitar os visitantes.

Ou então não teremos outra forma de, ao olhar para vocês, pensar no futuro, no entendimento do fazer político, olhar nas suas crenças difusas, nas “alianças” que vocês fazem com presidiários e dizer C.Q.D! (caramba, que desgraça!).

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 01/06/2014
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