* Felizmente, na manhã da última quinta-feira, os estimados baianos, cidadãos porretas e divertidos, voltaram a contar com os ônibus após a paralisação dos rodoviários que começara na tarde de segunda-feira.
 
A impossibilidade de pegar o buzu pode causar danos irreversíveis.
Se a pessoa deseja trabalhar, estudar, ir ao médico, o prejuízo é quase nulo, pois não precisamos trabalhar, ninguém necessita estudar e, menos ainda, dispensamos as visitas aos médicos.
Nós apenas precisamos ter a Copa, vibrando pelo hexa, preparando a cervejinha ou a pinga, enfim, trabalho, estudo e saúde não interessa.
O que vale mesmo é ver a seleção canarinho jogar.
 
* Esquecendo a curtição, entretanto, eu recebi um telefonema que me inquietou, pois a conseqüência da greve, nesse caso, foi devastadora.
 
Um amigo, Ricardo Pimenta do Jegue, me ligou.
Ele esclareceu que a cozinheira Lulu, uma formidável mulher, jovem e formosa, decidiu tornar oficial o casamento com o tranqüilão Roberval, encerrando assim a sua carreira profissional, ou seja, ela não pretende cozinhar mais.
Deseja exclusivamente tomar conta do noivo manso.
 
Para comemorar, ela organizou um almoço de despedida, prometendo o seu prato principal, uma deliciosa rabada, e garantiu oferecer também um sarapatel especial.
Ricardo disse que não lastimava perder o sarapatel, porém a rabada de Lulu ele precisava provar.
Afinal de contas, era a última vez. Depois dessa manhã, quarta-feira, somente o manso Roberval curtiria o tempero de Lulu, os diversos pratos variados da donzela, incluindo o sarapatel, e a incrível rabada.
 
Fiquei desolado. Ricardo solicitava dinheiro emprestado para pegar um táxi, no entanto eu, matando cachorro a grito, não pude ajudar.
 
* Queridos leitores, a greve atrapalhou demais o meu amigo.
 
Ir ao médico, trabalhar e estudar a gente faz qualquer hora.
Isso é rotina, é chato, enche o saco.
Mas a rabada de Lulu não está disponível todos os dias.
 
Confesso que imaginei ir à despedida de Lulu sem Ricardo saber.
Como? Eu pensei em “paletar” conforme a galera baiana gosta de falar.
Seria cansativo, mas creio que a rabada compensaria o esforço.
 
* Psiu! Não contem ao Ricardo, certo?.
Ele não merece uma nova dor ou um outro desencanto.
 
Se eu tivesse ido, dispensaria o sarapatel e me concentraria na rabada.
Segundo Ricardo (pobre coitado!), quem prova a rabada da moça, futura senhora casada, ex-cozinheira, dona de casa dedicada, não liga para as outras opções gastronômicas.
 
Caramba! Por que eu não compareci?
Acho que vacilei!
 
* Por que Lulu não adiou a despedida?
Depois da greve ela daria o sarapatel e a rabada.
Agora Ricardo nunca mais saboreará a rabada de Lulu e eu jamais vou conhecer os atributos culinários da gata.
 
Servir uma rabada num dia de greve não foi nada justo!
Lulu foi afobada.
 
Recomendo a vocês, carinhosas mulheres, que evitem ofertar comidas calóricas e apimentadas quando estiver ocorrendo uma greve.
Sejam prudentes, por favor!
 
Um abração!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 02/06/2014
Reeditado em 21/12/2014
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