Batalha da chuva repentina

Era dia de descanso e todos haviam acabado de almoçar. Vivia-se um silêncio raro, uma pausa para que todos descobrissem dentro de si um novo assunto para conversar. Foi quando o chefe da família esticou o pescoço até a janela e, ao se certificar do que acontecia, voltou-se para os demais e sentenciou gravemente: “Está chovendo”.

Essas palavras provocaram certo alvoroço. Primeiramente, todos ficaram espantados e, por instinto, olharam também para a janela. Viram com os próprios olhos: estava chovendo. Com terror no rosto, alguém se lembrou que havia toalhas estendidas no varal lá fora. E, como uma tragédia nunca vem sozinha, as janelas do sótão estavam abertas.

A visão das toalhas tomando chuva apavorou a todos. As mulheres soltaram gritinhos e as pernas dos homens tremeram. Ainda assim, levantou-se um pequeno exército, formado pelos mais bravos membros da família, disposto a enfrentar a chuva e tudo o mais que dela surgisse para resgatar as toalhas. A missão foi cumprida com louvor e em pouco tempo as toalhas já descansavam em local seguro. Não teve o mesmo êxito o pelotão designado para subir ao sótão e fechar as janelas, pois chegaram atrasados e muitos móveis ficaram molhados. Estes homens voltaram visivelmente humilhados, mas nem por isso deixou-se de reconhecer que, sem a sua pronta ação, a tragédia poderia ser maior.

Aos poucos a situação se acalmou e todos observavam a chuva da porta de casa. Foi quando a senhora da família achou por bem comentar que já era possível sentir o cheiro da chuva. Todos apuraram o olfato e, encantados, concordaram de forma unânime. Depois disso cada um se entregou aos seus próprios pensamentos, e nessa distração quase que as crianças escaparam em direção à chuva. Em seguida, alguém olhou para o céu e viu uma pomba em um cabo de energia, com as asas abertas, aproveitando a chuva para se lavar. A inesperada visão constrangeu a todos, que apressaram então o passo rumo ao interior da casa.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 16/06/2014
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