A CHAVE

A CHAVE

Sempre que posso vou visitar os tumulos do meu pai e da minha mãe. O meu pai esta enterrado no Musoléu dos Pracinhas da SEGUNDA GRANDE GUERRA, minha mãe esta descansando junto com os meus irmãos.

Era uma quinta-feira, dormi mal, e tive um sonho com o meu pai. Neste sonho ele pedia que eu orasse por ele, o que eu faço habitualmente.

Achei esquisito eu ter sonhado, e o pedido que ele me fez, então, na manhã de sexta-feira eu fui até o cemitério, queria visita-lo

Para entrar no musoléu é necessario assinar um termo de visita, pegar a chave, abrir um portal, e lá dentro estão todos os pracinhas brasileiros em pequenos sarcofagos. O nome, o dia de nascimento, o dia da morte, e a patente.

Peguei a chave e fui para o Musoleu, era um dia frio. Uma neblina suave cobria boa parte do cemitério.

Entrei, o cumprimentei como eu faço sempre.

--- bom dia pai. Espero que esteja tudo bem com o senhor. Aqui estamos naquela luta de sempre, com certeza o senhor sabe como é.

era o que eu fazia sempre, o tratava como um ser vivo, não como alguem que estivesse morto há algum tempo.

falei dos acontecimentos, comentei alguma coisa sobre a minha vida.

orei por cerca de 20 minutos.

despedi-me. Como sempre brinquei. Veja se fica quieto ai, pois aqui já temos muitos problemas. sorri.

eu e meu pai sempre fomos grandes amigos. Eu sabia tudo sobre a sua vida, seus amores, suas angustias, suas tristezas.

ele amava a minha mãe, amava muito, mas homem viril, precisava de sexo para sobreviver em paz. Minha mãe já não queria mais esses prazeres, então infelizmente ele se apaixonou por outra mulher e saiu de casa.

quase todos os filhos magoados o abandonaram, eu não, eu gostava das suas histórias do seu jeito, da sua maneira de viver a vida, senti muito a sua morte.

naquele dia... por algum motivo que não sei explicar eu fiquei mais feliz do que nunca em ir visita-lo, mas precisava trabalhar, então fechei a porta do musoleu e sai.

entreguei as chaves ao porteiro, e já ia saindo para o meu carro quando procurei a chave do veiculo e não encontrei.

voltei e pedi a chave do musoleu novamente, provavelmente tinha deixado ela cair lá dentro. O porteiro foi junto comigo, seguimos pelo mesmo caminho de anteriormente, poderia ter caido no chão. Não achamos a chave na caminhada e nem dentro do musoleu. O porteiro sugeriu. --- talvez tenha deixado no contado.

dificil, eu tinha certeza de que retirara a chave, mesmo assim fomos os dois juntos até o carro.

este estava fechado. olhamos em volta do veiculo. nada....

voltamos pelo mesmo caminho até o musoleu. nada.

--- desculpe senhor... disse o porteiro, apontando para uma familia que estava chegando e precisava de orientação.

voltei até a porta do musoleu.

sorrindo, mexi na fechadura, e falei baixinho.

--- pai deixa de brincadeira, eu preciso trabalhar, aonde o senhor escondeu as chaves do carro.

logicamente que não recebi resposta, mas o tempo passava, voltei pela terceira vez pelo mesmo caminho. resmungava.

--- sacanagem pai, estou atrasado para chegar ao Hospital, prometo vir mais vezes. sorri.

talvez voces me achem maluco, mas não sou.

derepente, escutei um tilintar de chaves a minhas costa, virei e a chave estava caida proximo ao meu calcanhar. fiquei momentaneamente tremulo, depois sorri, e caminhei em direção ao meu carro.

encontrei no caminho o porteiro.

--- vejo que achou as chaves, onde estava? - ele perguntou sorrindo.

respondi sem pestanejar.

--- estava com o meu pai.

vi que o porteiro ficou um tanto incredulo, quieto. Não dei tempo para ele fazer uma nova pergunta, entrei no carro e parti.

Ton Bralca
Enviado por Ton Bralca em 17/06/2014
Reeditado em 05/11/2016
Código do texto: T4847637
Classificação de conteúdo: seguro