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Eu não vou te dedicar este texto. Já dediquei muitas coisas a você, desde versos de Pessoa a um órgão vital que a gente carrega dentro, bombeando sangue e paixões. Ofereci mais do que pretendia e podia e você, esperto que só, chegou comendo pelas beiradas, se achando tão digno de tudo aquilo que no final, quando fui ver a bandeja, só tinham sobras: palavras ditas ao meio, abraços mornos e metade de uma cama vazia, só com travesseiros.

Eu devo ser especialista em colecionar partes. Nunca assisto o filme todo, empurro o prato sem comer tudo, não mergulho de cabeça. Talvez seja esse motivo que me leva por aí, procurando coisas para me completar, embora eu ainda não seja apta para isso; devo estar velha, fora de forma, sedentária e sem paciência. Mas sempre acho que se eu insistir mais um pouquinho, dá. Posso ter a sorte de um amor tranquilo, como Cazuza cantou, mas o sabor da fruta mordida, só eu provarei. E a outra metade vai pro lixo.

Estava pensando e cheguei à conclusão que eu possa estar indo na contramão de expectativas muito altas. Aquele apego todo, saudade excessiva e preocupação com o bem-estar alheio (o seu, no caso), não tem o sentido que deveria ter. Era para unir e não afastar. Era para ser o inteiro mais interessante, mas virou duas partes pouco atraentes. Calma, não estou te culpando por nada. Quem sabe o meu destino seja esse mesmo? Andar e nunca chegar? Esperar e nunca receber? Ou querer demais e só ter o que me convém?

Agora eu sei o que preciso fazer. Ir. Sair dessa casca, da bolha emocional e ganhar a vida. Conhecer gente nova, que não me complete, mas me transborde. Dar a cara a tapa, me jogar sem ter rede de proteção me esperando lá embaixo, abocanhar o que eu tanto esperei, sendo exatamente como eu queria ou não. Dar uma banana pra essa saudade carrasca que teima em me fazer companhia e buscar gente de carne e osso para ocupar seu lugar. Bater portas, virar mesas, socar o ar e mudar o tempo. Agora, nenhuma ausência dita as minhas regras. Sou cheia de mim o suficiente para ganhar esse jogo.

O “game over” não apareceu na minha tela, mas sei que martela a sua consciência.

ARYANE SILVA
Enviado por ARYANE SILVA em 17/06/2014
Código do texto: T4848683
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