Poluição sonora

Lembro de uma aula de História sobre a Revolução Industrial na Inglaterra. A primeira que me introduziu ao conceito de poluição sonora. O professor falou que, de tantos elementos novos que invadiram a vida das pessoas, um dos pontos mais difíceis para a sociedade da época foi o de se adaptar ao barulho.

A evolução trouxe consigo o som constante das máquinas, das fábricas, dos carros cujos motores escandalosos substituíam o trote rítmico dos cavalos. O mundo inventado pelo homem se tornou um murmurinho tão alto que deixou a população praticamente surda para os sons da natureza que antes eram familiares. E então, a Revolução Industrial não mudou apenas as ferramentas com as quais vivemos na Terra. Ela alterou também a maneira como ouvimos o planeta.

As gerações seguintes nasceram com o ponto de referência inverso. Buzinas, turbinas, tratores, músicas explodindo através dos headphones são o comum enquanto o silêncio quebrado pelo canto dos pássaros se tornou o nosso exótico. Ao ponto em que hoje pagamos caro pelo privilégio de férias em um paraíso isolado que cale as tecnologias para te permitir escutar seu próprio pensamento. E foi isso que fiz no final de semana passado. Comprei um dia de spa e paz.

O caminho para meu recanto começa em uma rodovia movimentada, até que as amplas faixas de asfalto viram uma estrada estreita de barro e a paisagem de monumentos de concreto dá lugar a árvores exuberantes. Como que um portal que te transporta ao passado, você atravessa uma ponte de madeira e lê, em uma placa pintada à mão, a lei máxima deste refúgio bucólico: silêncio.

A partir dali, celulares são proibidos. Não há mais os alarmes de mensagens de textos, a pressão de ler e-mails e notícias assim que eles chegam, ou a urgência exagerada de atender a todas as ligações o tempo todo. Sua única opção é de estar presente, ali, agora. E o mundo vai encolhendo até se tornar um cafofo aconchegante.

Quando a tecnologia saiu do contexto, primeiro meu cérebro detectou uma falta de som desconcertante. Mas assim como o olho se adapta à escassez de luz, também a audição fica mais apurada quando a excesso de barulho vai embora. Em questão de minutos, eu estava me deliciando com uma orquestra sinfônica completamente diferente.

Enquanto eu lia um livro perto da fogueira, ouvia claramente o estalar das toras em chamas. Deitada na rede, me admirava com o cantar dos ventos passeando entre folhas e galhos. Durante minha massagem, escutava o chiado suave do atrito da pele. A isso se somava a ópera das aves, de bocejos e da cachoeira, o zumbido de insetos minúsculos, o ranger esporádico de cadeiras...

Saí do meu refúgio preenchida de uma paz interior. Então, atravessei a ponte de madeira e saí do reino do silêncio. Gradativamente, vi a estrada de barro ser substituída pelo asfalto, as árvores ficando raras na floresta de prédios. E me senti perturbada como aquelas pessoas que presenciaram a Revolução Industrial na Inglaterra. Como é chata essa tal de poluição sonora.