O PEQUENO BASTARDO

Toda vez que Lucas comenta sobre nosso passado seus olhos brilham . Uma pergunta recorrente de sua parte é se um dia voltaremos a tocar juntos . Bêbado e alucinado ouve Sempre a mesma resposta : não . Essa é a hora que seus olhos se enchem de lagrimas , o que deixa bastante claro seu sentimento em respeito aos membros da extinta banda . Hoje Lucas não passa de um maltrapilho sem ocupação . Vive de favores , da generosidade de mulheres mais velhas e seguidamente o acolhem . Ele nega pagar seu preço por casa e comida . Segundo ele as senhoras são generosas , boas pessoas , o que não posso deixar de concordar depois de conhecer algumas delas , mas mesmo essas almas caridosas se cansam e uma hora ou outra o depositam no olho da rua . Aos vinte e seis anos , olhar para esse tipo de calças rasgadas e bom papo , é o mesmo que olhar para um fracassado de cinquenta , cuja vida de mil talentos fora desperdiçada . Ator , musico , contador de historias , palhaço , poderia ser o que quisesse ser , mas decide-se por não ser nada . Sujeito auto destrutivo que tem sempre as mãos estendidas , seja para uma boa porrada ou desabafo , não importa , basta uma ligação e lá esta um bom amigo . Veja que eu disse amigo , não colega , não existem muitos desses hoje em dia . A primeira vez que o vi foi saltitando entre os espectadores numa apresentação alucinada de um musico da cidade . O tal musico estava tão borracho que mal sustentava sua guitarra , enquanto o baterista com a perna esquerda engessada marretava seus tambores fazendo subir a poeira dos pratos . Com uma garrafa nas mãos Lucas ia completando os copos plásticos da sua turma carregando um cigarro aceso nos lábios . Enquanto via aquela cena me perguntava o que aquele pivete fazia ali , treze ,quatorze anos , vestido num conjunto jeans roto , se lançando como uma pulga de copo em copo ; o tal pivete prendeu minha atenção , o que era aquilo ? A vida em sua mais louca agitação . A corrosão dos bons modos de uma criança comportada ; um tipo com futuro incerto e cativante . Eis um vagabundo qual você não quer estar na pele mas gosta de estar por perto . E depois de mais de dez anos correndo e saltando juntos, chorando , lutando e perdendo e porque não vencendo , eis uma pequena homenagem a um cara que posso sem receios chamar de amigo.

25/06/2014

10h15m

Cleber Inacio
Enviado por Cleber Inacio em 25/06/2014
Código do texto: T4857790
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.