Ademais

Na semana que passou narrei minha aventura na capital; confusa para uns, chata para outros e para muitos melancólica. Dentre os comentários, porém, nenhum me chamou grande atenção, pois minha preocupação maior estava presa à grafia. Quando escrevi que minha ida a São Paulo não teve nada de mais (e não teve mesmo!) fiquei um bom tempo coçando a cabeça e pensando no termo. Afinal, o correto não seria demais?

Corri aos dicionários, às gramáticas, sites de autoajuda e ainda assim via-me perdido. Em todas as páginas vi que a locução “de mais” não estava errada, no sentido de causar anormalidade ou estranheza em um fato. Era o que eu precisava, já que São Paulo soava-me normal sem estranhamentos ou novidades. Ainda assim, quem disse que eu me convencia? Talvez se tivesse recorrido à gramática tradicional, àquela registrada nos papeis, onde os verbos além de sentido têm o cheiro e a textura dos livros. Pensei até em falar com a bibliotecária, mas se ela deixou passar batido, para que mexer no que estava quieto?

No fim o de mais foi publicado, sob muita resistência e com grande pressão demais. E parece que ninguém percebeu. Será que eu estava mesmo certo ou as pessoas que não se prendiam mais em detalhes? Nas entrelinhas das locuções adjetivas ou na gênese das locuções adverbiais? Para um purista seria quase um sacrilégio, tal qual confundir os mais com mas. Mesmo sem estar convencido defenderei minha posição. Afinal não houve até aqui oposição à minha relação com a Norma e se vier por agora, deveria ser muito contundente.

Outra questão é a estranheza que algumas palavras e orações nos causam, mesmo estando corretas. Essas de bater a porta ou comer do bolo e pisar a grama não me entram na cabeça. O costume já me viciou com a maneira coloquial e agora não consigo perder o hábito de pronunciar algumas frases ou palavras com consciência de erro, como diz a letra, nessas confusões de prosódia sem seus acentos graves ou agudos.

Por fim, essa explanação seria apenas um adendo antes de recomeçar um novo dia, um novo texto. Com o pensamento ainda voltado para o futebol, provavelmente tentaria segurar a atenção de vocês falando sobre a Copa e os jogos em alto padrão até aqui. Tenho ainda coisas para falar sobre as festas juninas que chegaram e nos empolgam ou sobre a temporada aberta das feijoadas. Entretanto essa minha angústia com a grafia e a dúvida de ser ou não ser do de mais (sem contar o corretor ortográfico que por momentos segue torrando os ânimos) fartaram-me, deixando assim, ademais, esse que vos escreve sem meias ou inteiras palavras.

Super Bacana
Enviado por Super Bacana em 27/06/2014
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