O ofício do Poeta...

Vou iniciar esse escrito pelo pedido de desculpas... Sim, pois falarei de algo que julgo não tão sabedor, somente admirador. É o ofício de Poeta.

Creio que este ofício é ingrato. Pois, o Poeta, na minha opinião, é aquele que faz poesias e tem isso como produto. Mas, vamos convir, não produz absolutamente nada. Ele fica em seu ócio, ou no meio da correria da vida moderna, esperando uma palavrinha, ou um conjunto delas que escorregue(m) para seu mundinho para catá-la(s) acomodando-a(s) no papel. Ela(s) traduzirão uma dor tão pessoal (mas no fundo tão universal)... Alguns afirmam que ela(s) criará(ão) vida só a partir de que algum desavisado a avista(m) numa folha qualquer, ou a(s) ouve(m) em alguma música, ou até mesmo de repente pichada(s) em um muro, quem sabe até mesmo em uma porta de uma banheiro qualquer como mote de reflexão, ou escárnio de nossa condição, em um momento tão íntimo...

Existem outros que afirmam que Poeta bom é aquele que diz muito com tão pouca(s) palavra(s)... Mas existem obras poéticas tão extensas que resumem história milenares...

Li certo dia que a característica que as palavras possuem de ter muitas significações é chamado de polissemia... No entanto, o Poeta consegue, pelo jeito, aumentar muito mais este universo significativo... Nele, busco tantas coisas, afirmo que talvez minha maior busca seja a felicidade, através do autoconhecimento, da atitude da mudança do eterno renovar-se... Também confesso, que já encontrei tantas coisas na poesia, que me pego a indagar se o que encontrei, era o que realmente o poeta queria dizer... Com certeza, quase sempre "não". Contudo, em certos momentos, chego a crer que era para mim. Quiçá?

Fico aqui com meus botões matutando, o que se passa pela cabeça de alguém escrever algo que outro vai completar, mirando acertar, não um, mas em vários corações, não só no presente, mas - talvez sem pensar nisso - daqui a muito tempo? Realmente, se não havia tal intenção, o cara consegue, e de forma fantástica - afirmo isso, pois acabei de ler um poema de Shakespeare...

O Poeta tira de coisas tão banais - pelo menos na visão da maioria dos atarefados - motivos para escrita. Um dia li um poema que falava de formiguinhas. Fiquei um mês na tentativa do entendimento do porquê escrever sobre tão minúsculo ser que vive sua vida toda, ou quase toda ela tão organizada a trabalhar, agindo de forma tão particular por um todo... Cheguei até a pesquisar sobre a vida delas, e aprendi muito... É, valeu a provocação, Poeta, você consegue, às vezes fazer um ignorante em formigas sair de sua zona de conforto... Hoje, olho com mais respeito essas nossas amiguinhas, tão organizadas, tão trabalhadoras...

Sei que a maioria dos Poetas não irão ler este texto. Pois o Poeta não tem tempo a perder, ele gasta com coisas mais úteis à vida, como por exemplo: viver. Nem que seja em seus ideais, e depois ele escreve e, escreve muito, embora às vezes com tão pouca(s) palavra(s). Pena que seu produto não tenha preço - da ótica capitalista - pois poderia até chegar a ser rico. Todavia, tenho quase a certeza que a riqueza iria consumi-lo no excesso do viver. Daí sim, não seria Poeta... Seria qualquer coisa, menos Poeta.

Eu avisei... não sei muito sobre esse ofício. Só sei que amo o resultado... Só não sei explicar o por quê.

marcio j de lima
Enviado por marcio j de lima em 07/07/2014
Reeditado em 07/07/2014
Código do texto: T4873275
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