A garça
Tinha por hábito, nos finais de tarde, passear no Orquidário de Santos. Naquela época estava morando pertinho e achava o Orquidário um verdadeiro oásis.
Certo dia, estava admirando uma garça: "Que linda!" "Que penas brancas!" "Que bicho maravilhoso!" A garça estava lá. Completamente quieta, nem parecia interagir com o ambiente. Indiferente, branca, bela, delicada parecia incapaz de qualquer tipo de ameaça aos que interagiam com ela, involuntariamente, dentro da paisagem do Orquidário.
De repente, um pardal passa num voo acelerado. Um zum quase imperceptível aos olhos, mas a garça interrompeu o trajeto do pequeno pardal. Numa única abertura de bico lá se foi o pardal. A garça mal se movera e interrompera aquela pequena vida e o pior de tudo: não deixara vestígio de que um certo pardal habitara por instantes o Orquidário de Santos. Olhei para a garça e ela, que mal se movera para ceifar a vida da pequena ave, permanecia impassível, branca, bela indiferente. Suas penas, sem mácula alguma, lhe vestia o corpo de garça. Fiquei revoltada e gritei para os meus botões: "Odeio garça!"
Há humanos que são verdadeiras garças sociais. Saem destruindo tudo que encontram a sua volta para satisfazer o próprio umbigo e impedem o voo de seus iguais num único ato.
Então eu grito para os meus botões: "Odeio garças sociais!" Finjo ser fria e indiferente a estas almas áridas. Não quero ser o próximo pardal.
Rutt Santos
Enviado por Rutt Santos em 12/07/2014
Reeditado em 03/09/2016
Código do texto: T4879430
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