ALEMANHA X ARGENTINA, FINAL DA COPA 2014: ME ENGANA QUE EU GOSTO

(...) "Nada mais midiático do que a Argentina ganhar seu tricampeonato no Brasil. Ou, quem sabe, deixem o óbvio acontecer e a Alemanha levantaria mais uma vez a taça."

Terminei assim o texto que publiquei aqui no Recanto das Letras, BRASIL X ALEMANHA, COPA 2014: ME ENGANA QUE EU GOSTO, que me rendeu boa visitação e comentários. Se dependesse de mim eu escreveria só coisas otimistas, poderia ser até mesmo sobre a Copa que se findou ou sobre a Seleção Globeleza. Mas não é o interesse da maioria das pessoas, meus textos que tratam de positivismo minguam, então, me despeço da Copa agindo como a mídia brasileira e postando um texto pessimista tentando que ele seja "mais um campeão de audiência".

Ficou em aberto o que se faria para fechar o script da Copa 2014. A Holanda era forte candidata ao título, pois convenceu em sua trajetória até a semifinal contra a Argentina e estava na fila de espera da conquista do primeiro lugar havia exatos quarenta anos. A Argentina aguardava o tri havia vinte e oito anos e a Alemanha o tetra havia quatro anos menos. Dados que necessitam confirmação. Contas feitas de cabeça e tendo a minha memória como banco de dados da Copa do Mundo de Futebol.

A questão era: O Brasil foi tirado da Final. Quer fosse isso por mérito de seus jogadores e técnico, quer fosse por jogada midiática da organização do campeonato midiático. Isso nos dá margem para suspeitas? Claro que sim. Não daria se o jogo entre Argentina e Holanda, a outra semifinal, tivesse acontecido antes do jogo entre Brasil e Alemanha. Ou daria também, só que com mais preguiça de se cogitar ter havido uma mexida nos dois jogos, promovida por acontecimentos anteriores.

Vamos lá entender o porquê daria? Bem, desde o sorteio da Copa – aliás desde de 1982, quando a Globo assumiu no Brasil o controle do assunto "cobertura de Copa do Mundo" – a mídia geral, principalmente a imprensa, vem articulando o modo de pensar das pessoas e a motivação para com o evento que terminou. Precisava do povo bem interessado e acompanhando cada futilidade que despejavam ainda hoje pela manhã na grande mídia. Criou-se muita expectativa em torno da participação do Brasil.

Em todas as ocasiões que a Seleção foi referenciada, ora era participação em torneios intervalares, ora eram jogos amistosos, e em todos os surgimentos, acensões ou transações de jogadores brasileiros, o discurso das redes de televisão, das emissoras de rádio ou da imprensa escrita visavam o aproveitamento dos acontecimentos que se deram do dia 12 de junho deste ano e foram até ontem, 13 de julho. Cada comídia labão articulava e ansiava pela melhor forma de abocanhar cada filão possível.

Houve construção de ídolos, coisa que é de praxe de acontecer, foi o caso do Neymar nesta vez; escolha do que seria o técnico que representaria melhor a conquista do Hexa, sobrou, então, para o Mano Meneses, uma inexplicável saída do cargo; tentativa de quebra de reserva de direitos exclusivos das transmissões televisivas de futebol no Brasil, o que era de agrado da população, poder ver pela Record também os jogos, como aconteceu com as últimas olimpíadas, só que população não opina, só assiste e sem saber que é se quiser; organização arbitrária do ranking brasileiro de torcidas, de clubes e de Centros de Treinamento; conquistas duvidosas de campeonatos nacionais e sulamericanos pelas principais agremiações desportivas de futebol do país; assassinato de reputação de jogador para assegurar o lugar dos outros do lobby, como aconteceu com alguns medalhões ainda na ativa e que fizeram um 2013 brilhante.

A Globo, isso eu ouvi falar, aguardava para a Final uma audiência de bater seu recorde. Na casa dos 80%. Imagina o quanto ela não faturou em cima de seus anunciantes que apostaram na transmissão? Aí é que está: Brasil fora da Final. 80 pontos, a Globo podia esquecer desde que ficou declarado que a seleção dela ia disputar o Terceiro Lugar. Por ordens superiores ou por demérito, não importava.

O jeito seria pensar em uma combinação de confronto, dentre os possíveis, capaz de recuperar o público ou parte dele. Diga-se de passagem, a disputa do Terceiro Lugar foi um fiasco em matéria de audiência, computando pelo o que vi nas ruas e nas casas, pois circulei, observando isso, um bom perímetro na hora do jogo, incluindo o local onde caiu o viaduto em BH. Você não acha que céticos esperam o que dizem os institutos que medem audiência com a nota da fatura na mão, acha? Holanda contra a Alemanha certamente não alcançaria uma boa pontuação no Ibope. A luz no fim do túnel seria mandar a Argentina para encarar a Alemanha no encerramento do cortejo fúnebre brasileiro chamado Copa 2014. Motivar o ódio dos brasileiros contra os argentinos, que a própria imprensa criou, seria uma boa trama. De repente alcançaria um contingente até maior do que seria o jogo esperado, tendo o Brasil como protagonista. Inspirava a ideia.

Apesar da, já fácil de perceber, falsidade na narração em que o locutor parecia mesmo torcer a favor da Holanda no embate contra os hermanos, a Argentina venceu os holandeses e o deixou, também falsamente, triste. Não seria impossível, mas era de se esperar mais de um time que além de ter chegado à semifinal com boa performance, vem se destacando há um bom tempo, há pelo menos três copas, e que possui um campeonato nacional que está entre os melhores do mundo, que é o caso do time holandês. Pareceu sensato ir parar nos pênaltis. A velha expressão "é loteria" ajudaria a controlar seus torcedores, que fazem parte dos povos que não é qualquer conquista de copa do mundo que vá fazer com que eles se sintam melhores, mais ricos ou mais felizes. Se uma coisa dessas ocorreu fica até fácil de entender por que o goleiro holandês pegador de pênaltis dessa vez não foi acionado.

E, então, "tudo como dantes no castelo de Abranches", "Riram o rei, a corte e o bobo", como dizia o Romário. Não sei se a tática funcionou ou se a audiência planificada se configurou. Só sei que a midiatização funcionou direitinho: tanto nas ruas quanto nas redes sociais. Medindo pelo meu olhômetro. Só se via brasileiro desprezar argentino em nome da Globo. E depois se dizem patriotas, cristãos e independentes de opinião.

Se o resultado era para ser o que foi, Alemanha campeã na bola, eu não sei. Não vi desse jogo mais do que os instantes finais. Só sei que, como bom cético, um empate contra a Alemanha em três tempos era muito para uma Argentina que não se comportou tão brilhantemente em todas os jogos e ainda chegou ao fim por meio de cobrança de penais alternados. E ainda teve uma cobrança de falta nos pés do fenomenal, porém visivelmente desinteressado no jogo, Leonel Messi. No minuto final do segundo tempo da prorrogação. A qual pareceu ele ter tido o cuidado de sequer jogar entre as traves. Coisa que seria impossível para ele se ele tivesse tido interesse em fazer aquela preciosa cobrança com zelo. Quem sabe ele estivesse avisado para não gorar o que poderia ter estado sob acordo?

Vai ver teremos Argentina contra a Alemanha novamente em 2018, não é? E nem precisará estar acordado o tri argentino, com Messi se despedindo da carreira em alto estilo. A mesma mídia brasileira que moveu a população a vaiar os argentinos no Maracanã ontem, como se isso fosse mesmo a vontade dela, se redimirá movendo seus súditos a torcerem, então, para os argentinos evitarem o Penta alemão. Sejam livres, senhores!

"Às vezes, de tão inacreditável a verdade deixa de ser conhecida"

(Heráclito)