Estilhaços do coração

Às vezes estou um monte de cacos. Alguns pedaços são coloridos, uns são grandes os que são fáceis de identificar. Outros são tão pequenos que, quando quero achá-los para junta-los aos maiores, é que me toco de que não conheço a sua natureza ainda. Não estão em mim, mas sei que estão aí. Eles fazem de alguma forma parte de mim. Eu os sinto. Se parecem como um desejo intenso pelo que nunca tive. Como a fome insaciável eu queria devorá-los todos, como a falta que sinto de alguém especial e matar a saudade desta pessoa só nos finais de semana. E quando você descobre que o sorriso mina-lhe facilmente pela face, agarra teu tesouro com a voracidade do amante.

Não se mata a saudade, mas quer-se devorá-la inteira, para que, como se, tornar um e nunca mais sentir falta. É muito gostoso quando a esperança em saciá-la traz um grande alívio. Talvez como saciar a sede. Mas este deserto é cálido, despido e inócuo. E a procura toma despudoradamente os lábios macios, quentes e envoltos pela inebriante insensatez que causa a falta.

Sinto que de minhas entranhas as vísceras tornaram-se acinzentadas, foram petrificadas, transformaram em pedaços vitrificados por este chão de meu Deus. Os junto e perco-me, doem os meus joelhos, mas estou lá novamente, astuto e com o coração palpitando acelerado naquela esperança vaga, precipitada de uma paixão estonteante. Então observo discreto, penetrante como olhar de águia que aquele adocicado sorriso de lábios curvilíneos, brilhosos e dopantes cede-se aos encantos de outrem.

Acho que são nestes momentos que preciso me encontrar. Não são os pedaços grandes em mim que fazem a diferença, mas os pequenos que são quase que indomáveis e que revolta numa insatisfação desmedida e indefinida. Mas que me tiram do anonimato, impulsionam-me a buscar uma consolidação.

Geovani Silva Contos e Crônicas

Geovani Silva
Enviado por Geovani Silva em 17/07/2014
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