Vontade do Cheiro

Acabei de passar um café na cozinha quando disse para minha mãe "você quer um gole para não ficar na vontade do cheiro?". Achei curiosa essa ligação, "vontade do cheiro". Falar a gente fala sem nem pensar na hora, só depois que talvez venha a refletir no real significado do que foi dito, assim como uma pimenta que na primeira mordida pode não ter efeito mas depois de alguns segundos começa a arder na boca.

"Vontade do cheiro" é algo que diz respeito à memória olfativa. A medicina explica que existe uma forte conexão entre nariz e cérebro, daí que os cheiros costumam trazer tantas lembranças, ou até mesmo prazeres. Eu sou da opinião que um cheiro de churrasco é melhor do que a degustação dele. O café citado tem o aroma como retratado nos desenhos animados com aquela mão esfumaçada que te seduz e puxa pra fonte de origem.

Ainda assim, em dezenas de milênios de evolução humana, os nossos narizes ficaram preguiçosos, hoje não se tem, entre homens e mulheres, o faro comum de outros animais predadores. A gente só sente um cheiro quando é absurdo não sentir, como um matagal em chamas nos sufocando com a fumaça. Ou ainda, e isso eu considero um resquício do faro do passado, com o cheiro da pessoa que se gosta. Não tem explicação, ele apenas acontece. Um dos maiores momentos do romantismo atual é quando o cheiro do outro se encontra em nossas roupas. E como explicar esse cheiro? Não tem como. Ele simplesmente está lá e você sabe que é da pessoa. O faro preguiçoso ainda tem seus momentos de glória, não se explica justamente por se encontrar em desuso e fora de forma. É um belo resumo da expressão "vontade do cheiro".

-G-

GaP
Enviado por GaP em 19/07/2014
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