Aula de Pilates III

Ainda acredito no ser humano. Somos uma espécie dominante. No solo, no ar ou na água, temos domínio completo de todas as ações.

Ainda me orgulho da barriga que tenho. A orientadora reafirma a cada sessão que ao longo de nossa existência nos acovardamos, aceitando dia a dia a companhia das limitações que nós mesmos criamos.

Não sei se concordo com ela ou parto pra agressão. Fácil é falar em objetivos quando se tem vinte seis anos de idade. Quero ver planejamento de vida, público, quando se está na melhor idade, aposentado, sem autonomia para escolher o canal de televisão que vai assistir. Confesso, adoro a série alienígenas do passado, me identifico plenamente.

Minha neta arrumou um andador. Tenho saído das seções de Pilates com proteção. Faz muito tempo que não sei o que é cadarço. A tecnologia desenvolveu umas meias orgânicas, mergulhe os pés na solução e adeus frios nos pés. Toda vez que uso, lembro da cera de abelha e me sinto enganado. A vizinha, mudou-se.

Ainda to resistindo. Querem me expulsar das sessões de Pilates. A atual orientadora, quarta ou quinta, não me lembro, me disse que tenho que ir pra hidroginástica. Essas novatas não sabem nada. Tinha uns trinta por dia frequentando as sessões. Caiu de moda, ninguém mais procura. Dizem que por uma questão ética. A ONU e a Organização Mundial para a Saúde consideraram o método como incentivo a tortura. Houvi falar de um julgamento, do método e seus efeitos, no tribunal de Haia.

Me considero um sobrevivente. Não largo o Pilates. Ouvi que muitos morrem afogados na Hidroginástica. Passei movimento Hippie, o milagre brasileiro, a década perdida, o programa mais médicos... enquanto eu viver haverá sessões de Pilates.

Falei com a assistente social que me visita em casa. Ela foi taxativa: O senhor é masoquista. Essas gerações novas tem muito a apreender sobre princípios.