Qual foi seu melhor Encontro?

E ela me perguntou

“Qual foi o seu melhor encontro?”

Não precisei garimpar muito na minha memória para dar a resposta.

“Difícil dizer...talvez “encontros” sejam subestimados.”

Respondo.

“Qual é! Deve ter algum. Aquele que você nunca esquece.”

A garota insiste.

“Bem...”

Eu coço o queixo.

“...ela estava parada na saída do meu serviço. Não nego que fiquei surpreso. Havia chamado ela para sair a algumas semanas, mas ela fazia...aquilo que vocês dizem hoje em dia...cú doce. Sempre tinha algo atrapalhando, alguma coisa acontecendo...nunca dava.”

A garota, já com os olhos vidrados, sorri.

“De fato, já estava me acostumando com a ideia de levar mais um entre os inúmeros bolos que já levei.”

Me sento no sofá.

“Lembro-me perfeitamente, era dia de academia. Uma mochila branca e surrada apoiava-se em minhas costas. Caminhei o enorme corredor da saída e a abracei. Tentando não demonstrar interesse – embora custasse disfarçar.

“Não foi bem isso que eu pensei como encontro.”

A garota – agora deitada no tapete da sala – diz.

“Você quer ouvir ou não?”

Ameaço a levantar do sofá. A garota se cala.

“Algum momento no tempo, entre algumas palavras trocadas e uma breve visita a casa da sua vó, estávamos ela e eu sentados no estacionamento do supermercado mais próximo.”

“SUPERMERCADO!?”

A garota não resiste.

Olho para ela com desaprovação. Ela novamente se cala, mas deixando a cabeça balançar negativamente.

“Sim, um supermercado.”

Sorri.

“Havíamos comprado um engradado de cerveja e para saciar nossa fome, Pringles.”

“Hum...Pringles.”

A garota diz. Eu novamente sorrio.

“Continuamos conversando por um longo tempo, nos conhecendo e na maioria dele escutávamos músicas em um pequeno Mp3 que tinha. Escutamos Guns, Pearl Jam, Oasis, Dire Straits...até que o aparelho sorteou Kansas. “EU AMO ESSA MÚSICA!”, ela exclamou quando Dust in the Wind começou a tocar.”

Continuei contando a estória.

“Permanecemos conversando até que a garota me confessou – no momento que no Mp3 tocava uma versão instrumentada de A Day in the Life (The Beatles) – que ela quando criança e o pai, cantavam juntos uma das músicas da mesma banda.”

“Beatles? Sério? Quantos anos ela tem?”

A garota pergunta, incrédula.

“Sabe que eu não sei.”

Respondi.

“Mas tio, esse foi o melhor encontro que você teve? Cadê o jantar romântico? As declarações? O frio na barriga?”

A garota se levanta do tapete.

“Vocês se viram de novo? Você namorou ela? Eu conheço?”

E dispara muitas perguntas.

“Não precisávamos de jantares, declarações ou ansiedade. Naquele momento, naquele breve momento que estávamos ali, haviam somente ela e eu em um mundo particular e restrito. Nada precisava ser mostrado, nada precisava ser cobrado, nada precisava ser dito.”

Eu respondo algumas.

“Mas...”

A garota abaixa a cabeça, como se quisesse entender tudo aquilo que eu dizia.

“...se foi tão bom, onde ela está agora?”

Eu sorrio, enquanto levanto a cabeça da pequena pelo queixo.

“Na restrita imensidão do átomo desenhado em sua pele.”

Nilton Bruno
Enviado por Nilton Bruno em 23/07/2014
Código do texto: T4893322
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.