Talvez

Pare de fazer drama. Erga essa cabeça! Esse amor não deu certo? Paciência, outros virão! Ou não. Talvez não deu porque não deveria dar, ou talvez ela é o amor da sua vida, mas vocês estão no momento errado. Talvez, a encontre daqui uns oito ou nove anos, por acaso ou não, numa mesa de bar qualquer, ou em um teatro. Talvez ela já esteja casada, com filhos. Talvez não. Talvez só esteja por ali, se embriagando um pouco mais pra esquecer o vazio ou ao menos conseguir suportá-lo.

Talvez você a chame para sair, e então vocês irão lembrar daquele “velho tempo”, onde tudo era tão lindo e simples, vão lembrar do quão apaixonados eram e de como tudo acabou tão rápido. Um típico amor adolescente. Vão rir, e então, seus olhares se cruzarão, e você verá naquela mulher a mesma garotinha medrosa, perdida e pura que ela era a anos atrás. Vai sentir sobre sua mão, a mão dela. E de repente, todo seu corpo estará trêmulo, o coração acelerado e nada mais passando pela sua cabeça. Sim, você foi pego pelo amor. Aquele amor que você tão bem conhece. E então, vai se perder num mundo tão lindo. E vocês irão apaixonar-se perdidamente, mais uma vez. Mas agora já estão bem crescidinhos, não é mesmo? Nada vai acabar assim de repente. E então namoram, casam, e vivem felizes para sempre. Ou não. Talvez, você a chame para sair e ela diga um simples “não”. E então, você sairá por aí, revoltado, sem esperanças no tão falado amor. Sim, agora você está com raiva, porque ali, naquela mesa de bar, você já tinha planejado uma vida inteira ao lado dela. Uma vida tranquila e feliz. Porque ela tinha que estragar? Droga!

Agora você já não quer mais saber. Num gole forte de uma pinga barata, deixou evaporar toda a sua sensibilidade! Agora você é uma pessoa fria. Uma pessoa para uma noite só e nada mais! E você vai seguir o resto da vida assim, até se entregar completamente à bebida e às drogas. Já não há mais rastros de lucidez em seu ser. Então, em uma outra mesa de um outro bar qualquer, uma mulher vem puxar assunto. Ela também parece estar “bem loucona”. Ela é estranha, fala umas coisas sem pé nem cabeça, viaja. Parece ter vindo de um universo paralelo. Vocês conversam por horas e horas. Os assuntos variam desde as teorias do universo, até o porquê da laranja se chamar laranja e não amarelo. Você encontra ali uma pessoa perdida, sem lucidez, sem esperanças e tão fodida como você. Pensa num segundo em apaixonar-sNÃO! Não pode se apaixonar. Não pode, porque você já não é mais assim. Você já não acredita mais no amor. É uma palavra que foi deletada de seu dicionário. Então, se despede e não diz ao menos seu nome. Mesmo sabendo que se dissesse, ela não lembraria no dia seguinte. Então, vai embora. Ao virar a segunda esquina, arrepende-se e volta, ao chegar lá, a moça já não está mais. Droga! Se você ao menos tivesse pego o número dela. E então segue por aí, mais uma vez só, nesse mundo tão grande. Mais uma vez, acompanhado por um vazio tão sufocador. Entregue às bebidas. A vida é mesmMAS CALMA AÍ! Como eu vim parar aqui? Sobre o que eu estava falando mesmo? Ah é! Não fique triste, outros amores virão. Ou não…