A NOVA GERAÇÃO

Assim que cheguei, Claudia me estendeu uma sacolinha de plástico. Não é presente, disse ela, você esqueceu aqui da outra vez, faz tempo. Era um par de chinelos de dedo. Eu devo ter trazido para ir à praia, pensei, mas olhando melhor, vi que havia dois nomes escritos em cada pé. Esses chinelos não são meus, nem conheço essa gente! Alguém ganhou isso numa festa de casamento, é aquele chinelinho para descansar do salto alto. E tem data: 2008. Então ficamos a imaginar... Quem será esse casal?... Como serão eles, onde moram?... Será que estão felizes?... Será que têm um bebê?... Que bebê, que nada, o filho já deve estar bem grandinho. Ou será uma filha que nessas alturas está aprendendo a ler... Garanto que são dois, alguém retrucou. A menina, loirinha como a mãe, adora cantar segurando a escova de cabelo feito microfone. O garoto, de olhos pretos como o pai, chuta a bola e grita gooool quando ela passa entre os pés da cadeira. Quem sabe eles não se tornarão famosos um dia, ela como excepcional intérprete da boa música e ele um ás do nosso futebol... Que bom, assim contribuiriam para acabar com os infernais tum-tuns que tanto ouvimos pelas ruas e deprimentes chororôs em final de campeonatos. Contribuiriam também para a salvação do Brasil!