Breve

Toda noite, faço uma espécie de balanço emocional das coisas que sinto na esperança de amenizar a dor do amor. Eu sei, parece complicado à primeira vista, mas serei breve, prometo. Aliás, por falar em breve, que palavra mais familiar, não? Guiado por um Aurélio com pontas amassadas, vos digo: Breve: 1. de pouca duração ou extensão; 2. Leve, ligeiro.

Agora, dados os conceitos, vamos ao meu balanço emocional de hoje (e de sempre).

É impressionante como uma simples palavra de pouco mais de três letras consegue, de forma tão.. breve, dizer tantas coisas. Porque é exatamente assim que as lembranças me vêm a mente. De forma breve. Assim como foi breve como nos conhecemos. Lembra-se? Uma breve troca de olhares na escada da escola. Você descendo e eu em pé ao lado do bebedouro te observando. 2 segundos. Foi o tempo necessário para que a imensidão negra dos teus olhos me afogasse em pensamentos aleatórios que, ao final, me levavam sempre a mesma certeza: “Como ela é linda”. Teus olhos são encantadores. Enfeitiçaram-me de uma forma que, a partir daquele dia, tive que olhar tua foto brevemente todos os dias para saciar meu desejo de vê-la. Mas acalme-se, nossa primeira conversa não fica para trás. Como posso me dar ao luxo de esquecer tuas breves primeiras palavras dirigidas à mim? Uma breve pergunta, mas que escondia a vontade mútua. “Você gosta de Ozzy?”. Nossa conversa seguiu um ritmo acelerado pela madrugada, mas que ao meu ver parecia tão.. breve.

Existem pessoas que são tão especiais, que não precisam, sequer, estarem presentes para fazerem com que outro alguém as deseje. Elas emanam beleza e sugam amor. E você, de forma assustadoramente breve, já havia sugado o meu. Não me dou o direito de esquecer o quão breve foi o toque de nossos lábios. E, neste caso, a palavra breve deve ser interpretada em seu sentido literal. Não houve beijo. Pude sentir tua respiração quente e acelerada bem perto de minha boca e o levíssimo toque de teus lábios nos meus, mas não houve beijo. Teu olhar irradiava amor, mas não houve beijo. Teu perfume cheirava à flor, mas não houve beijo. Dominado pela maravilhosa sensação de tê-la tão próxima à mim como sempre desejei, e completamente omisso à vontade de minha boca, os olhos fechei. Minha boca engatou a quinta marcha tendo como destino o paraíso: teus lábios. Porém, ainda assim, não houve beijo.

Ora pois, o que houve afinal? Houve amor. O mais puro, simples e breve amor que já tive o prazer de sentir. Aquele amor que faz bem, que aquece a alma e põe o coração em chamas. Aquele amor olho no olho, que não foge à luta mesmo quando as forças para continuar tentando pareçam estar esgotadas. Aquele amor sofrido, que mesmo depois da decepção, continua vivo. Aquele amor amado, que hoje sinto e me deixa desarmado. Houve amor. Há amor. E sempre haverá. Talvez um dia você caia na real e veja que estou aqui por você. E não existe nenhum dia sequer que eu não sonhe com esse momento. Mas, se me permitir fazer um pedido, de quem tem ama e está a espera de uma nova oportunidade de refazer o que não foi feito, peço-lhe: Seja breve.

Peter Rodriguez
Enviado por Peter Rodriguez em 28/07/2014
Código do texto: T4899390
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