VOEI

Era um projeto da escola primária, nossa turminha iria visitar crianças internadas em um hospital. Recolhemos donativos e no dia acertado, fomos para a Santa Casa, que atendia aos pequenos carentes.

Distribuindo os presentes recebíamos de volta risos, abraços, gritos de euforia e agradecimentos. Em meio a isso aconteceu o que destoou e que considero ser o grande diferencial em relação aos sentimentos dos adultos.

Vi um garoto deitado em uma cama mais afastada, quieto com o ventre avolumado, apenas observando os brinquedos. Peguei um carrinho e levei para ele. Em nenhum momento olhou para mim, apenas o agarrou com ansiedade, como se fosse lhe escapulir e nada manifestou. Isso não me perturbou, pelo contrário, dele me lembro com muito afeto. Foi neste dia que voei, voltei para a escola sem perceber o chão debaixo dos pés, sentindo uma felicidade indescritível.

Nunca vou me esquecer deste episódio, nele meu coração infantil teve uma verdadeira e desprendida alegria pelo outro, sem melindre, ou julgamento, sem pretensões ou necessidade de qualquer retorno.

Vem-me a lembrança daquelas palavras: "... só entrará no reino dos céus, quem for como criança”. Assim as entendo, pois naquele dia, estive no céu.