Agosto.

Esse agosto lembra a cor dos meus cabelos hoje, amarelos, dias amarelos, e não vivo como o sol, mas morto apaticamente. Amarelo como o processo de cicatrização. Como a anemia psicologica dita dos meus olhos. Todos os agostos me trazem a mesma quina no dedo, o mesmo arrancar de tecido e o mesmo pedido "não chega...". É amarelo por dentro, nem um pouco simpático, guardado entre os órgãos todas as sensações, horriveis sensações, marcadas uma para cada 1 dos 31 dias. Sempre repetidas. "Por favor, não chega.". Chegou há minutos e chegou junto a primeira, e contorço os traços faciais como se os outros 7 me preparassem e os outros 4 me fosse o tempo pra abrir o olho, e preparar pra fecharem de novo. Eu rezei pra que não chegasse, eu pedi! E pelo 5º ano consecutivo, eu peço pra resistir, mas peço enquanto ainda contorço e enquanto sinto meus órgãos abrirem espaço pra tudo que eu não queria sentir. "Faz parar...", eu peço até pra mim, e os mesmos traços torcidos, se moldam num sorriso, pra me mostrar que eu sou minha propria destruição, e que sou eu quem escolheu o dia pra cada rasgo, a trilha sonora, e o desenho do meu rosto. E de outros rostos, moldei cada um pro meu desespero, pra me enxergar em alguém e me proteger, em outro, de mim mesma.

Carmen Tina
Enviado por Carmen Tina em 01/08/2014
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