Galos e celular

Outro dia ouvi um galo cantar e assustei-me. Não, não tenho medo de galos, aliás, quando ia passar férias na cidadezinha onde nasci e passei minha infância, adorava ser acordada de madrugada com o cantar dos galos das redondezas. Aqui na cidade grande, o barulho dos automóveis muitas vezes nos impede de ouvir seu cantar. O que estranhei agora é que o galo cantou às cinco horas da tarde. No meu imaginário, galos cantam de madrugada, anunciando o novo dia. E fiquei atenta para saber se foi só nessa tarde. Não foi, no dia seguinte, ele cantou de novo, à mesma hora. Bom, então deve ser a raça do galo, a região, o clima, sei lá. E já começava a me acostumar quando ouvi outro galo cantar (ou seria o mesmo?) às onze horas da manhã. Mas o que é isso? A hora da cantoria dos galos mudou ou eu nunca havia reparado que eles cantam a qualquer hora do dia?

Bom, mas de alguns anos para cá muita coisa mudou nesse mundo. Não se sai mais para bater papo, mas para bater nas teclas do celular. Se tiver mais de um reunido, eis que o celular estará no meio deles. Aí você me pergunta: o que tem a ver o celular com os galos? Nada. Ou melhor, tudo. Se antes o galo dormia somente de noite e cantava para nos acordar de manhã, hoje ele também se modernizou e tira sua soneca de tarde, ou não mais madruga, dorme a manhã toda e canta às onze horas. Da mesma forma o celular, antes nos ajudava a sair do isolamento, encurtava distâncias, hoje ele reúne as pessoas para isolá-las no mesmo espaço. Assim como o cocoricó do galo fora de hora, o fiufiu do whatsAp rouba a cena.

Ftima
Enviado por Ftima em 07/08/2014
Reeditado em 08/08/2014
Código do texto: T4913936
Classificação de conteúdo: seguro