Quando conheci Tereza

Quando trabalhei em uma empresa de Estofados no centro, recebi um pedido de orçamento na casa de uma senhora, em um sábado quase no fim do meu expediente. Como eu precisava do emprego não pude recusar.

Quando cheguei, era um prédio velho (não em ruínas), mas antigo. Subi até o apartamento e fiquei encantado com a beleza clássica daquele lugar. Uma senhora bonita abriu a porta com um sorriso tão doce nos lábios que parecia uma velha amiga. Tereza era uma mulher elegante e dava para notar que devia ter sido uma linda dama na juventude.

Terminei o orçamento em alguns e me surpreendi, quando fui entregar a nota e ela tinha preparado uma mesa com café. Antes de eu sequer falar sobre o trabalho ela me convidou para me sentar. Eu estava com pressa, mas não sei porque aceitei. Me sentei e ela perguntou:

-Quantos anos você tem?

-dezenove. -respondi.

-Tão jovem.- Ela me disse me estendendo uma xícara.- Você tem namorada?

-Não, não tenho. Na verdade eu não tenho tempo pra isso.

-Você ainda tem todo tempo do mundo querido, você é tão novo.- Ela olhou pela janela e por um momento pareceu viajar para outro lugar, outro tempo na verdade.- Não desperdice as oportunidades que se mostram para você. Quando eu era Jovem conheci um rapaz. Eram outros tempos aqueles, as coisas eram mais... complicadas. Ele era um marinheiro viajado e eu uma moça de família, tão conservadora quanto se pode pode ser. Meu pai já havia acertado meu casamento com um outro rapaz de família rica para garantir o futuro dos negócios da nossa. Mas eu já estava perdidamente apaixonada. Planejávamos fugir, mas meu pai descobriu e usou sua influencia para nos separar, o mandou para servir nos confins do mundo.

Eu me casei e tive três filhas com meu marido prometido. É claro que não ter um filho homem não o agradou. Os anos que passamos juntos foram horríveis, ele bebia, me traia, me batia. Só encontrava felicidade no amor das minhas filhas.

O tempo passou, nossas filhas estavam criadas e só me prendia aquele casamento por puro conformismo. Então um dia (por acidente ou vontade do destino) nos encontramos de novo, anos depois (como em um filme de cinema) estávamos juntos. Eu era uma mulher direita, casada com um homem de respeito, mas nada disso importava mais, eu era feliz. Em pouco tempo pedi o divorcio e me separei. Meu antigo marido não aceitava a perda e me colocou contra minhas filhas. Elas não entendiam. Ficaram ao lado do pai e eu nunca mais as vi. Viemos para essa cidade e fomos muito felizes. Hoje fazem alguns anos que meu marujo se foi. -Ela suspirou um ar confortado, olhou nos meus olhos e disse- Aproveite seu tempo querido, cada momento dele, pois no fim tudo que vai restar são as lembranças.

Eu nunca esqueci aquela tarde, nunca esqueci aquelas palavras. Trabalhei com a D.Tereza algumas outras vezes e ela sempre muito gentil me convidava para o café sempre.

Hoje eu quis escrever sobre ela, Uma grande mulher, um personagem da vida real que deixou saudade.