O novo dia surgiu iluminando as frestas da minha janela, me preenchendo o coração com uma sensação nostálgica, abandonada em algum canto há décadas.

Um saudosismo inquietante fez-me recordar e desejar revisitar um santuário do qual eu já havia até esquecido, mas não perdido na memória. Esse sentimento me encaminhou para lá mesmo sem que meus pés soubessem para onde me levariam. 

Cercada pelo muro, avistei a cruz fincada no chão como uma antiga árvore. Com a invasão do mato, mesmo passando muito próximo não se poderia avistá-la, mas eu sabia da sua existência à sombra das pedras...

Tudo ali foi tomado pela floresta que cresceu a sua volta. Os anos se passaram e ela continua, cheia de lembranças, testemunhando o murmúrio do vento na beira da serra.

O sol forte quase atenuou sua aparência sombria de profunda solidão e tristeza.  A casa nem existe mais, o mato invadiu, por falta de dono. O que resta da sede daquela fazenda são lembranças desbotadas, musgo ressequido. Ali não ouvi passarinhos e nem vi flores. Só pedras...

O lugar pedia para não ser profanado... Já teve seus dias de glória e isso, nem a poeira nem o tempo conseguirão apagar. Ao observar tudo aquilo, um sentimento me envolveu, uma sensação estranha tomou conta de mim...

Ouvi barulho de uma janela batida pelo vento. Mas não havia vento, muito menos janelas.
O ar parado sufocava. Fiquei em silêncio, tirei as fotos, fiz uma oração e parti.
         

           
         

*Tirei as fotos no local onde visitei a cruz.

Este texto faz parte do Exercício Criativo - Uma cruz à beira da estrada
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Maria Mineira
Enviado por Maria Mineira em 11/08/2014
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