TELEVISÃO É DISTRAÇÃO?

Realmente, tá longe de ser distração qualquer parte da programação televisiva. Há muito que as emissoras e seus produtos são instituições mal intencionadas que aproveitam o fato de o método televisivo provocar hipnose, abrir a mente das pessoas e deixá-la escancarada para receber sugestões, que sempre são as piores possíveis. Vai do que precisa um cliente, o Governo ou uma camada social no que se transformarão os telespectadores.

O televisor é como uma caixa mágica. Uma vez prostrado em frente a essa caixa mágica com ela ligada a conversão em zumbi receptor de mensagens se inicia. Fica-se hipnotizado. Em estado hiponogógico avançado. Os raios antes catódicos hoje digitais, varrendo linhas ou enchendo pixels, formando quadros de imagens que permanecem à vista e dão lugar a outro, que sabe-se lá o que pode ser, à cada 30 a 60 quadros por segundo, escravizam nossa atenção e não dão chance de termos pensamentos aleatórios e sob nosso domínio. Pensamos o que é nos sugestionado a pensar. Sempre que um hipnólogo tenta nos por em estado receptivo ele pede à sua vítima que fixe sua atenção em algum ponto. A bem da verdade, a maior parte do que identificamos em uma imagem que aparece em um aparelho televisor é nos direcionado, de tão dormentes que estamos. É comum as pessoas dizerem para si ou para outros, "isso tinha nessa cena, eu nem notei", quando veem uma repetição da cena.

E aí, permitir que esse jeito "zumbílico" de se observar algo ganhe a condição de nos prender a atenção é se por nas mãos dos outros totalmente desprotegido porque nunca direcionam o telespectador para um símbolo ou um simbolismo que não tenha um interesse, por vezes nefasto, por trás. E para ter que adormecer alguém para que só assim esse alguém veja o que quer que se queira que seja visto, só pode ser algo que qualquer um ofereceria resistência em olhar sem criticar ou em decidir acatar a oferta.

Sugestões e mente humana: péssima relação para se dar à deriva. Aquele que sugere cria o destino de seus sugestionados. Depois é só sair dizendo por aí quando chamar a atenção o aumento de pessoas na sociedade com certas particularidades – que ele causou – que se trata de um fenômeno natural, típico da modernidade ou outra balela que faz parecer que eles controladores de mentes não têm nada a ver com o peixe. E nem o invento deles. Este está livre de qualquer acusação de provocar as transformações sociais que acontecem em peso impressionantemente. Não precisam fazer plebiscito para decidir se a sociedade ganha ou perde com a existência da caixinha que tudo mostra no meio de todos nós. Só eles que comandam o que vai aparecer na caixinha é que estão armados. Armas que matam e ferem sim senhor. E que nunca traz sanidade ou cura.

Nem sei como ainda existem pessoas que acha natural a quantidade de drogados que apareceram depois que a droga virou filme; de gays e lésbicas depois que as telenovelas e outros programas passaram a promover essa sexualidade; de crentes depois que o movimento evangélico, patrocinado por interessados em cristianizar de modo doentio o povo, ganhou os finais de noite na maioria das emissoras de tevê; de criminosos depois que o mundo cão pôs seus repórteres policiais para fazerem propaganda do crime todo fim de tarde e ao meio-dia; de alienados por futebol; de gente infantilizada pelos bordões dos humorísticos; de gente melancólica e masoquista e com síndrome de "humildificação" por causa desses shows de domingo que exploram a facilidade que é causar comoção por causa de pouca bosta que dizem estar a ajudar a população sofrida; de gente que se torna apolítica, que pensa que só há políticos desonestos e que se afasta da política e deixa os cargos para os bandidos tomarem conta; de gente que se torna fútil e se entrega à banalidade da subcultura do funk, do rap e do axé music; de gente que acha legal falar errado e ter só o Primário, pois vai ficar rico do mesmo jeito se tiver que ficar, que nem acontece com seus ídolos sertanejos pop e com os párias do futebol; de gente que acredita que futebol é disputa; de gente que acredita que loteria é jogo de sorteio e que realmente dá prêmio; de gente que acha que reality show é realmente reality; de gente que compra as coisas por causa da propaganda e se sente na moda e integrado ao grupo dos fashion; de gente que acha legal ir morar ou passear no exterior algum dia e que tem que, imprescindivelmente, falar inglês. E etc, etc, etc que não acabam mais as possibilidades de "zumbinismo", de "reverencianismo", de idiotização, de colonialismo, de pensar moldado, de servidão, de emburrecimento.

Mas, acima de tudo, o que mais me incomoda, é o número de pessoas que acha que o Governo e a mídia preocupam conosco e buscam nos dar dignidade e renda, uma vez que não vivem por nós as relações com os monstros que eles criam e nem pagam nossas contas. Só nos transformam em revoltados e em devedores. É que poucos enxergam isso. "Filhos da Terra, saiam dessa prisão". Escolham a matrix dos que criam matrizes!