Provocações
Fiquei observando até que elas sumissem no fim da rua. Até o limite da observação humana. Eram belas criaturas criadas para amar a serem amadas por quem as tocassem. Com o toque mágico do olhar, do sabor e do saber.
O que há além da curva? O que há além da linha do horizonte? Depois do muro e através dele? O que há além do além? Até onde vai a persistência do olhar? O que acontece depois da partida, da entrega, do ato, e do fim da distância?
De onde sou, o que posso ser, até onde acredito ou até onde sou consciente de mim, da existência do meu eu e vivendo inerte, como saber o que há além? O que está atrás do meu próprio pensamento? Obtuso. Sim, mas existindo e sendo.
Que imensa vontade de atravessar estas grades, esta janela e ir.
Mas não poderia ir por não compreender como ir.
Como entrar em algo cuja vontade própria não existe? E se quando houver não saberei ler essa construção maldita.
Se não há portas, por onde essa coisa foge de si mesmo? Sim há portas. Mas Ninguém nasce sendo chave. E sim um cadeado sem as próprias chaves.
Fico pensando que só dessa coisa existir como coisa qualquer ela me ataca me fere e se desfaz de mim. Ela resiste a mim como existe um bloco sólido de puro concreto. Ela vai tão longe, mas exalando seu odor perfumado, natural ou fétido.
Tenho asco, mas a quero para mim. Porque é delicioso ter asco de algo tão real. Ela é o que é. Vive para causar dor ou alegria.
Essa coisa que me causa loucura. Eu fico desvairado. Querendo não ser mais.
Eu a quero toda em mim. Longe morro. Perto ela não existe para mim.
Eu simplesmente abro a porta da casa e saio também. Agora passo a ser. Até sumir no além da curva e desaparecendo no vão das coisas.