O Avesso da Sorte

“Toda sorte tem quem acredita nela” assim diz o refrão de uma cantiga que nem me lembro onde escutei. Mas também tem aquele desgraçado sem sorte, que pode andar com figas, dentes de alhos, pés de coelhos e até o crucifixo benzido na missa que continuará com a zica no calcanhar. Este azarado tem um nome, se chama Guizado. A falta de sorte dera inicio ainda no nascimento quando os pais se separaram e ele fora entregue aos cuidados de uma velha tia quase surda e analfabeta. No dia de registrá-lo sem saber que nome colocar, pedira opinião as pessoas na fila do cartório, um bêbado que se encontrava ao lado sugeriu Gildásio, mas ela entendeu Guizado e assim ficou. O menino triste, feio e amuado, a timidez era tanta que não lhe deixava sequer abrir a boca para responder o que lhe perguntavam, a velha lhe batia dizendo que surra faz gente falar, só não poderia ser nos ouvidos pois apanhara muito para dizer as primeiras palavras e justamente nos ouvidos ,, o que lhe causara surdez parcial. Na escola Guizado era o “Cristo” qualquer cruz torta era ele quem carregava, certa vez quando comemoravam as festas juninas estouraram uma bomba no banheiro, como ninguém assumiu a culpa, lhe deram-na que sem coragem para defender-se fora expulso e levado para casa no carro da polícia. A velha quase surda, sua mãe de criação com seu pouco entendimento do mundo, ouvira de alguém que o garoto poderia se tornar bandido detonador de caixas eletrônicos, assim jogou suas poucas roupas pela janela e lhe mandou ir para os quintos dos infernos. Ele foi, mas com medo, refugiou-se em uma casa abandonada, que de abandonada só tinha a aparência, era esconderijo de produtos roubados e uso de drogas, onde a policia monitorava há meses, justamente naquele dia estourou as entradas flagrando Guizado com sua cara de assustado dormindo ao lado de Televisões, Computadores, Celulares e muita droga. Depois da prisão sua cara triste e tacanha fora estampada no jornais, para o pavor da velha mãe de criação quase surda que naquela mesma noite tomara o ônibus com destino a roça. Guizado estava sozinho no mundo, as pessoas que o conheciam julgavam com maldade seu comportamento, lembravam-se de que grandes psicopatas da história eram calados e com semblante estranho, uma vizinha fantasiou que certa vez presenciara o rapaz se transformar em um bode preto. No Centro de Reeducação os outros garotos mesmo com fama de durões ficavam em vigília com receio de alguma atitude inesperada de Guizado. Que ao contrário se borrava por dentro, chorava, sofria e temia ser morto por aquelas criaturas que falavam em vingança a todo instante. Estavam orquestrando uma rebelião, conversavam em grupos separados, mas não o envolviam nos planos. A meia-noite, várias grades se abriram e começaram a incendiar colchões, tomaram um agente como refém e decapitaram um rapaz jurado de morte, sangue jorrava, Guizado tremia, mas não tinha aonde ir, não tinha o que fazer senão correr atabalhoado no meio daquele inferno, de repente um alarme e uma voz intimidava gritando por um microfone, mas ninguém queria se render, ele sim, pensava em dizer aos policiais que estava desarmado e não participava do motim, mas infelizmente não era mais possível, já que armas pesadas foram usadas impiedosamente contra os rebeldes garotos, Guizado deitou-se fingindo de morto justamente sobre o sangue daquele decapitado, a faca usada também estava ali e justamente quando ele levantou-a para livrar-se dela , fora flagrado pelas câmeras de um Jornal sensacionalista, Tde arma em punho ao lado do corpo mutilado e sem cabeça. O Secretário de Segurança Pública fora convocado pelo Ministro da Justiça a dar explicações sobre o “Monstro Guizado” que em curto espaço de tempo tornara-se o mais temido de todos os criminosos.