INFÂNCIAS DIFERENTES

Precisava, com certa urgência, escrever. Vários assuntos vieram-me à mente: pessoas e as suas mais variadas atitudes; o mundo e tudo que nele há de belo; o aprendizado que a vida proporciona, entre outros. Mas um não saiu da cabeça: infância – a começar pela minha, pois falar do outro é fácil, mas de nós é meio complicado.

Não tenho muitas lembranças desta fase da minha vida, mas o pouco que me resta é o bastante para o saber que foi bem diferente das situações que vejo hoje. Naquela época os pais mandavam – hoje os filhos fazem de tudo para mandar nos pais e estes, de certa forma, acabam concordando e deixando os filhos fazerem o que querem.

Os brinquedos são diferentes: hoje vejo pequeninos brincando com joguinhos eletrônicos no computador, no celular – na minha época (até podem dizer que é saudosismo) brincávamos com coisas simples – um carrinho feito de madeira e rodas de carretel de linha (também de madeira), por exemplo. Alguns carrinhos de plásticos – e não muitos, pelo menos eu não tinha muitos: sempre tive vontade de ter um carrinho do corpo de bombeiros e, quando ganhei, dele não largava. Eram coisas que realmente valiam ter. Infância!

Lembro-me, também, da coleção de bolinhas de gude (bolinhas de vidro) – uma mais bonita que a outra, coloridas e, como sempre, uma tendência maior para as de cor verde: natureza e o time do meu coração. Jogávamos na escola, na terra, com quatro buracos, sendo três seguidos e um à direita, ou à esquerda. Às vezes jogávamos 'valendo' – e quem ganhasse a partida (ir, voltar e ir novamente) levava a bolinha de vidro do adversário embora. Ficava muito sentido quando perdia, quando ganhava era pura festa.

Da minha infância também recordo os livros exigidos pelos professores. Minha família se esforçava e eu tinha todos os livros que os mestres pediam. Recordo que o primeiro livro que li – 'A Ilha Perdida', de Maria José Dupré, depois 'A Serra dos Dois Meninos' - e estes eu tinha até pouco tempo, quando oportunamente doei a uma biblioteca (foram mais de cem livros doados). Perguntar aos jovenzinhos de hoje sobre livro – já sabemos a resposta. E, quando por dever do ofício, peço que leiam, é uma reclamação só! E, pensando nisso, instituímos na escola – pelo menos uma hora de leitura por semana – e em sala de aula!

Podemos dizer que os tempos são outros, sabemos disso – mas as diferenças estão acentuadas de mais. Os dias passam. E mais acentuadas as diferenças. O que fazer? Eis a pergunta que não quer calar; ainda não há uma resposta definida. Há vários caminhos que indicam várias respostas – ainda bem que somos humanos e continuamos sempre a buscar respostas.

Recordei agora, que quando criança queria colecionar figurinhas – não tinha poder aquisitivo para tal (só tive um álbum de figurinhas: de Ciências). Muitos amigos de escola tiveram esta oportunidade (infâncias diferentes). Adolescências diferentes: catorze para quinze anos – trabalho e com carteira assinada. Hoje até colecionam, mas parece que não há aquela paixão verdadeira por colecionar. Creio que quando não se pode fazer plenamente o que se quer – no caso aqui colecionar figurinhas, a paixão é maior.

Citando colecionar, outro dia – uns três ou quatro anos atrás, comprei de uma colega de trabalho uma coleção de cartões telefônicos: duas pastas enormes de colecionador e uma caixa de sapatos lotada – recordo que foi um acontecer em minha vida: uma paixão concretizada. Uma vontade de infância colocada em prática – creio que muitas outras vontades são colocadas em prática a partir do momento que começamos a ter mais regalias. Ou, a partir do momento que podemos decidir o que queremos.

E, se compararmos as infâncias, notaremos muitas diferenças – inclusive na maneira de educar os pequenos. Fico a imaginar daqui a alguns anos como essas diferenças serão mais acentuadas e nós, os mais velhos, assustaremos com determinadas situações. Perguntamos a nós mesmos: o que será deste mundo nos próximos anos frente a esta geração moderníssima? 15/08/2014

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Prof Pece
Enviado por Prof Pece em 17/08/2014
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