Diário – Poço

“Cansada, perdida e tão desnorteada. Caminhando entre as luzes dos postes que eram refletidas nas ruas molhadas, cambaleando bêbada, embriagada de solidão e angústia. Pensamentos suicidas que terminavam numa cama com um maço de cigarros compartilhado, meio copo de cerveja e uma cartela de antidepressivos escondidos na bolsa. Era vida, mas não era uma vida digna, não era digna de felicidade, não merecia nem ao menos sorrisos falso na segunda-feira de manhã e nem merecia ser vivida.” Jan/15 -2013

“Acordando dia após dia, aceitando os moldes da sociedade, fingindo ser feliz, aceitando o não da vida e o sim da minha própria vida. Tudo tinha acontecido para dar certo, mas não deu, não era tempo de dar certo, não daria certo, o pessimismo era o escape do sofrimento, mas depois surgiu o sofrimento antecipado.” Jun/19 – 2014

“Tudo naquele dia tinha mudado, havia vários caminhos, numerosos, mas escolhi apenas um, havia várias cartas sobre a mesa e por sorte não tirei a que eu queria, mas a única que precisava para fechar a noite com uma Trinca, não era muita coisa, mas de inicio nem precisava de tanto, logo se tornou o Royal Flush que me fez ganhar qualquer partida nesses bares da vida.” Ago/17 – 2014

Trechos do diário de uma cretina paranoica, bipolar e míope, entenda que quando menos espera a sua vida te joga em um poço sem fundo, aonde você cai cada vez mais, de onde não consegue sair, apenas sabe que deve deixar o orgulho de lado e agarrar a primeira mão que estender em sua direção, mas o problema é que quando nos afundamos é porque estamos afogados no próprio orgulho, sem dar ao menos uma chance para quem se afunda ao nosso lado, mas que está disposto chegar à superfície de mãos dadas, o medo de afundar com outra pessoa ou fazer o outro afundar é o que nos impede de enxergar a pequenina luz do sol na saída do poço.