Pela Janela Do Carro

Pela janela do carro vejo na noite da cidade iluminada, o menino que vende doces no cruzamento da avenida, a prostituta vendendo o corpo, semidespida e o travesti embonecado chamando ela para briga, pela disputa de clientes na esquina dividida.

Pela janela do carro vejo a velha que estica as mãos pedindo ajuda, o bêbado cambaleando na ladeira, o louco namorando uma árvore, meninas pobres sendo abusadas por velhos pedófilos e pichadores de paredes "achando" que são filósofos.

Pela janela do carro vejo um assalto no meio do quarteirão, um bando de "zumbis" usando drogas, o mendigo imundo carregando num saco o seu mundo e uma mulher sendo espancada pelo marido, que é um preso foragido e foi por ela escondido, protegido.

Pela janela do carro vejo animais abandonados, um garoto que foi estuprado, a mãe que caminha tremendo na chuva com seu filho no colo apressada e um moribundo encolhido em cama de papelão na calçada.

Pela janela do carro vejo um adolescente sofrendo bullying calado, um homossexual agredido por um grupo armado e um rapaz negro sendo hostilizado pelo preconceito arraigado.

Pela janela do carro vejo uma criança caída, vítima de bala perdida,

vejo as luzes da polícia, o perigo da milícia, o traficante agindo, a corrupção atuando, um homem chorando com o corpo sangrando e uma criança mamando em uma mulher no chão, toda torta, ela está morta.

Pela janela do carro vejo alguém que foge de um tiroteio gritando socorro... preciso ignorar, não posso parar, senão eu também morro!

Claudia Salck
Enviado por Claudia Salck em 21/08/2014
Reeditado em 23/08/2014
Código do texto: T4930864
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.