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Dias se passaram depois de minha volta e me peguei ainda com a mala por ser desfeita. Mesmo assim, saí andando pelos espaços da casa observando os detalhes sentindo aquele ar acolhedor que sempre encontro pronto, cada vez que chego. Paredes gelo. Café ainda por fazer... E a cadeira “espreguiçadeira” ocupada pelo gato que, ao me ver, se esparrama à espera de carinho. 

E fico pensando. Não é por preguiça que deixo sempre ficar alguma coisa dentro da mala. Na verdade, o que acontece é que minha alma parece sempre demorar a voltar pra casa. Antes de pousar de vez, revejo meus passos pelas ruas da cidade que visitei e que foi minha por alguns dias. Revejo os lugares, as pessoas. Todo pensamento ainda transita livremente em minha mente e todas as sensações ainda se organizam sob a minha pele. Pareço ter saído de algum sonho que foi interrompido pela viagem.

Não nego, às vezes me sinto só em casa, claro, mas voltar pra casa tem sua felicidade. Um olhar de relance por toda parte e parece que tudo ali só falta dizer “você voltou pra mim” . E, então a casa se torna a ilha onde naufrago muitas vezes quando a saudade aperta e nem sei dizer de que. Mas a seguir, tempero meus sorrisos quando olho por aquela janela em que vejo o mundo e por onde qualquer tristeza reluta atravessar. 

A seguir, observo as prateleiras do quarto cheias de livros e de materiais usados para minhas aulas. Tento querer descartar essas coisas, mas não consigo. E devagarinho vou pegando livro a livro acariciando-lhes as folhas lidas. E pouco a pouco vou chegando mais perto para cheirar aquele papel já tão manuseado. Sim, eu cheiro os livros que leio. Parece que assim sinto melhor a história que se desenrola ali. Sinto nas mãos a suavidade ou a dor que as palavras deixaram em mim. Sim, gosto, sim, de sentir o cheiro dos livros, sobretudo depois que se acostumam a mim e ao lugar onde vivo. 

Me dirijo novamente para a janela, olho para além daquele posto. Um sol caramelo se abre sorrindo me dando bom dia. Reparo nas ruas. Então, meu olhar vai seguindo o tempo lá fora, as pessoas levando sua vidinha corrida. Assim, fico esperando que os minutos passem e me façam sentir que não estou só. 

Saio da janela. Entro de volta e sigo pelo interior da casa. As paredes grossas me defendem do calor. Percebo que a cozinha está pedindo ingredientes. Só então, sinto que voltei, deveras. 

Minha viagem só durou alguns dias, mas a mim parecia que se haviam passado semanas. É sempre assim quando chego em casa e, sem propósito algum, vou deixando tudo para depois. 

Finalmente armo uma rede, fecho os olhos, ouço uma música e serenamente percebo que amo tudo aquilo que me cerca, sem tirar nem pôr.