MEDO DE AVIÃO
Apanho emprestado do grande Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes o título desta crônica.
Sou um confesso medroso de voos aéreos. Já experimentei e, para meu gosto, considero a cota esgotada. Acho que estou em boa companhia nessa paúra: Tim Maia, Niemeyer e Nelson Rodrigues (três confessos fujões de aeroportos).
Quando precisei voar, como bom medroso, recorri às revistas sobre aviação, artigos sobre acidentes aéreos, estatísticas de toda ordem. Todos garantiam-me a mais absoluta segurança. Pareciam querer dizer: o imponderável, os carros, trens, charretes e até um prosaico patinete são mais inseguros que um avião.
Apesar de crente do que li, segurei, à guisa de patuá, um copo d'água mineral por toda a duração, que pareceu eterna, daquele voo. Hoje vejo que não foi de toda destituída de sentido minha cautela, visto que naquela rota rumo ao Norte do país tivemos tragédias posteriores. E de monta. Falhas de radares, erros de controladores, rotas invertidas; enfim, deram-nos um balaio de causas.
Longe de mim querer culpar alguém ou órgãos, mas não confio nas autoridades do setor aéreo. E rio quando atribuem a queda do avião de Eduardo Campos a qualquer teoria de conspiração estapafúrdia. Ora, deve-se isto sim é abrir a caixa-preta (com perdão pelo trocadilho) da aviação executiva no Brasil e fazer um raio-X completo desse monstro para que outras tragédias sejam evitadas. Acho que não ocorrerá. Como não sou milionário, escapo de utilizar esses aviões. E de seus acidentes sem mídia.
Para encerrar vou com o gênio Nelson Rodrigues. Um voo é um idílio com a morte. Melhor um idílio com a vida, mesmo que complicada, lembrando Gonzaguinha, não? Mais uma dele. Na sua genialidade Nelson conseguia ser engraçado até nas paúras. Segundo ele um aeronauta que chegava à aposentadoria não era um pensionista da previdência, mas sim, um sobrevivente. Se tiver mesmo que enfrentar o pássaro de aço e for medroso, faça como Oscar Niemeyer: encharque-se de uísque ou torça para ser um sortudo como na letra do Belchior: “Foi por medo de avião/Que eu segurei pela primeira vez a tua mão”.