Cavalgada da Amizade

Quanto tempo a gente constrói uma amizade? Sei que não é pouco, tem aqueles amigos desde a infância, estes são insubstituíveis, tem outros que encontramos pelas encruzilhadas da vida que são como se fossem amigos de sempre. Descobri neste fim de semana que tem atalhos para diminuir este tempo. Um é ser apresentado por um amigo ao seu grupo de amigos, encontramos desta maneira muitas afinidades de aproximação, outra é cavalgar juntos por dois dias ou mais. Cavalgar é bom, mas tem seu preço, não só financeiro, mas das dores, principalmente para o iniciante, se não fosse a solidariedade dos veteranos não rolava.

Fizemos uma cavalgada iniciada em Aparecida, cidade situada as margens da Rodovia Dutra e ao pé da Serra da Mantiqueira. O programa iniciava-se com uma missa na catedral com os cavaleiros todos uniformizados. Depois seguíamos para uma pousada em uma Van, onde se iniciaria a cavalgada, no dia seguinte.

Eu fui de cavalo emprestado, ou melhor, de égua , ao ver a cavalgadura lembrei-me de uma recomendação, o cavaleiro tem que ter no máximo 20% do peso do animal. Saímos no dia seguinte, de cara, uma subida de 3 a 4 km para o topo da Serra da Mantiqueira. O amigo que tinha providenciado a cavalgadura para mim, estava em um animal bem maior, ele 30 kg mais magro do que eu, propôs que trocássemos de montaria. A égua menor agradeceu. Todos os cavalos eram manga larga mineiro machador, muito espertos, sempre disputando a cabeceira da tropa. Éramos dez tropeiros, mas dois no apoio em uma Toyota Bandeirantes. Fui muito preocupado com chuva e o frio, esta é uma das regiões mais fria do Brasil, mas o tempo estava muito bom, foi muito agradável, neste quesito.

Entre os companheiros, um engenheiro formado na EFEI – Itajubá, outro cavaleiro era um Coronel do Exército na reserva, gente muito boa, amigo de amigo, outros empresários, fazendeiros da região, um cavaleiro era um técnico de montaria, estava lá com ferraduras para trocar se necessário, injeções e remédio para dores nos cavalos e também uma farmácia para dores de gente. A noite, com muita dores, me deram um remédio, desconfio que era comprimido cavalar, tal a eficiência dele, no dia seguinte estava inteiro.

A paisagem deslumbrante, alto da Mantiqueira, local onde eram criados carneiros que forneciam lãs para os cobertores Paraíba, ainda se criam ovelhas lá, agora com menor intensidade. As araucárias com suas copas características, as mais novas com formato de pinheiros de natal. Vi lá uma junta de bois puxando um carro com pneus de borracha, não cantava como os dos nossos antigos, um detalhe, tinha um puçá na boca do boi, tipo de balaio, acho que para não pastarem quando em trabalho. Vi ainda dois burricos com jacás na cangalha usados para buscar ração no campo. Um festa para os olhos .

Na hora do almoço, paramos num mirante que dava para ter uma ampla visão do Vale do Paraíba, avistamos as cidades de Lorena, Aparecida, Taubaté. Soltamos os cavalos arreados, e sem o freio, quase ficamos sem eles, e ainda, eles quiseram sojigar, isto é, deitar e rolar sobre os arreios, mas rapidamente vimos a besteira que fizemos e voltamos a amarrá-los.

O pessoal do apoio fez um churrasco de carneiro, e a cerveja estava no ponto, preferi a cachaça “dedo de prosa” do Colega e amigo Narciso. Isto tudo no campo, só com uma chapa quente aquecida por gás.

A noite paramos em uma pousada, o pessoal de apoio providenciou pasto para as montarias. Eu desci do cavalo e mal podia andar, tomei um dorflex e mais um remédio cavalar e fui para cama, só me levantei para jantar, imagine o quê? Arroz com suã, acompanhado de Cerveja e a “dedo de prosa”. Não tinha aquecimento para água, ninguém teve coragem de encarar a água fria, geladíssima.

Dia seguinte, o apoio foi buscar a tropa, escovamos as montarias, demos um quilo e meio de ração para cada animal. O nosso desjejum, o requentado do jantar, estava bão que só. Esperamos a tropa fazer o quilo e seguimos em frente. Por incrível que pareça estava sem dores, acho que foi o remédio cavalar. Na hora do almoço paramos na fazenda Boa Esperança, local com uma cachoeira e ainda uma mini usina hidrelétrica, o proprietário, para mim decepcionante, cobrou as cervejas e porções muito caras e não era daqueles mineiros bom de prosa. O local era lindo, acabou compensando.

A última pousada foi em Delfim Moreira, na casa do João Gonçalves, nosso apoio, fazenda de montanhas, para mim uma surpresa, cria-se nelores lá e muito bem, de repente quebra-se um paradigma, nelores em montanha. Uma opção para os cafeicultores em crise pela grande oferta mundial de café.

Ninguém sai como entrou em sua primeira cavalgada, amizades iniciadas uma interação atávica com os animais, saudade do conforto da nossa cama, mas um sentimento de “Quero Mais”.

Esta é uma atividade que está se desenvolvendo muito e penso que logo se tornará um forte segmento de turismo na nossa região.

Uma dica, não se aventure em uma cavalgada deste porte sem participar antes com gente com experiencia.

Defranco
Enviado por Defranco em 14/09/2014
Reeditado em 04/11/2014
Código do texto: T4962144
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