SAINDO DA MATRIX: INTRODUÇÃO

Taí, vou fazer uma série de textos carne de pescoço doa a quem doer. A ideia é desmistificar certas atitudes que alguém praticou no passado, alguém se aproveitou da prática e por causa desse alguém hoje todos nós mantemo-nos a praticando e a propagando para todo sempre, pensando que gostamos de praticá-la, mas sem saber ao certo se gostamos, e aqueles que já deixaram a matrix que molda os seres na tal prática ou os que nunca estiveram nela são obrigados a arcar com as duras consequências de não se submeterem à prática. Pegou?

Quer ver um exemplo? Não tem aquela crendice de que homem que ama manda flores para a amada? Se pegarmos quando começou isso vamos perceber que alguém fez isso pela primeira vez por si próprio. E depois, o próximo a fazer fez porque esse que fez isso o fez e esse que o repetiu gostou do que ele fez. Não importa o resultado que o primeiro alcançou ou se o segundo alcançou o mesmo resultado. E se a primeira vez que alguém faz algo inspirador for em uma encenação dada para um filme ou para uma telenovela, a coisa se propaga como rastilho de pólvora. Se transforma em verdade absoluta em menos do que o tempo que dura o intervalo comercial. Que certamente será composto por anúncios de anunciantes de produtos similares ao ato praticado para o público ver. Mas de verdade que homem que ama manda flores não existe nada. Existe é o molde e a crença no molde. O costume produzido e reforçado por meio de propaganda.

Outro exemplo: Uma mulher tira a calcinha e a joga para o marido. A expectativa dela é que ele cheire a vestimenta. Pronuncie alguma fala exaltadora. Ufane. Entorpeça. Ponha a peça em sua coleção. Seja malicioso e viril através desse ato. Afinal, o Wando, o Jesse Valadão ou outro machão qualquer fez tal coisa, fizeram uma tremenda propaganda em cima da virilidade deles e em cima do ato que eles praticaram e pronto: ficou rotulado o procedimento correto de um macho quando uma mulher joga para ele a calcinha que ela estava usando e ficou condicionada a mulher a achar que para ela testar se seu macho é macho mesmo e se ela consegue despertar a libido dele, a mesma precisa jogar para ele a calcinha que estiver usando.

O problema é que quem deixou esse condicionamento e não quer se submeter às práticas que às vezes até recebem patrocínio para serem disseminadas, transformando, com isso, todo mundo em frágeis românticos saídos de linha de produção ou em ridículos cheiradores de tecido perfumado, perde o direito de não ser igual aos outros, pois estará fadado a receber as piores classificações e sentenças por parte daqueles que preservam e ajudam a propagar a modelagem de hábitos. As floriculturas e os fabricantes e vendedores de calcinhas perfumadas que exploram a matrix machista apontada neste texto agradecem.

Eu sou mais negar qualquer tipo de condicionamento, pois não permito que me digam o que fazer. Prefiro arriscar a ser original. Gosto de cuspir nas estruturas e pago o preço se eu me ferrar com isso. Se eu sucumbir inventando uma alternativa minha para o glorioso ato de cheirar calcinha, eu tentarei diversas vezes até eu encontrar o que procuro, que é algo diferente do que eu encontraria fazendo mais do mesmo. Abro mão, mesmo, de obter um sexo robótico, comum a todos que se enveredam a cheirar uma calcinha lhe jogada, dado por uma mulher sem inspiração nenhuma e que apenas segue uma bula.

É tão automático isso de seguir uma receita machista fabricada para o comportamento romântico ou erótico de um homem para uma mulher e vice-versa, que a qualquer momento se pode recorrer à matrix. É tipo: "se arrependeu e voltou a fazer o trivial se está perdoado", "tome aí o caldo que sempre sai disso". Se tento dez vezes meu próprio método e colho resultados diferentes do desejado, recorro a matrix para sair da abstinência e certamente terei o resultado meia-boca que já conheço: o sexo robótico que apenas alivia. Simples assim.

Daí, volto a tentar ser original mais algumas vezes até que eu consiga o que eu gostaria de conseguir: deslavar a mente das mulheres que ajudam a conservar táticas machistas insanas e obrigar a comunidade machista que está no controle das situações a comer mais feijão e ser mais original na hora de tentar seduzir uma mulher. Chega de eles garantirem o deles modelando os outros.