Lacuna
Os sonhos, o que são? Luzes de uma plenitude que clama pelo eterno condensar de anseios irreais? Qual seria a vida ideal para a lisergia de um pensamento póstumo se vangloriar na ausência do que dizemos: é isto, é o necessário, é a cativa certeza de nos sucumbirmos na realidade retrógrada de nossa existência.
Somos a certeza, somos a concreta carência de nos aceitarmos. Ontem vimos a fantástica jornada pelo vou além destes mares supremos, hoje o que vemos é a celebração do quase estive em qualquer lugar, o trajeto imperfeito da solução perfeita. No carnaval de nossos devaneios, a certeza é o eu fiz, me senti, me realcei nas linhas tortas de uma história promovida pela carência.
O que virei? O que senti? O que sonhei? Sou o acaso, sou o talvez, sou o eterno caminhar que se condensa no talvez serei. A memória, o que é, se não a retrógrada busca dos nossos melhores momentos. O presente, a retribuição pelo que foi feito, o amor que nasceu, o ódio que se esvaiu, a certeza que cumpriu o seu papel.
Ó lacuna imperfeita, ó carência incompleta, ó solitude que amamos. Quero ser viril, quero calçar a virtude, quero a estampa celestial de nossa magnanimidade.
Subi, desci, caí na realidade como num sonho. A embriaguez do acaso, o pesadelo em remorso que se diz, aqui vivi e morri, aqui pensei e sofri, aqui o hoje, aqui o amanhã, aqui o futuro que esperamos, e que almejamos ser perfeito.
Nas linhas de uma escrita promovida pela celebração carnal, o que ocorre é a solução: por mais inadequadas que sejam as situações de um outono longínquo, as armas são dadas como irmãos de uma genética infalível; o que se busca é a verdade de nós mesmos, o que se quer é um entendimento global.
O gozo, este é o dilacerar de nossos anseios mais peculiares; te quero, meu desejo é o meu sonho, o meu sonho é o meu karma, a minha vida é a lápide de minha revolta, somos o tudo, somos o nós, somos a realidade que grita, somos a verdade que cala, a lisergia de sermos comuns.