Suposições Supersticiosas

O cantor passou, a saudade surgiu, o sonho, por um instante, se reafirmou como a luz para todos os dias seguintes. O real, não mais camuflado pela idealização da saudade, surge como a arma para o avanço, o enlaçar dos sonhos, o gozar da felicidade através de delírios com vontade própria.

Ó mundo, ó celebração ao acaso, ó concorrência desleal entre o corpo e alma, quando lúcido a negação, quando embriagado o descaso pela solidez da maturidade. Quem quis, quem quer, que vai querer a verdade, a luz de uma esfera onde não apenas libélulas circundam, mas se debatem no não entendimento, e se esborracham ao choque advindo da cegueira irradiada.

Vida, morte, luz, trevas, este é o corpo que vive e se aniquila pela incompreensão, esta é a razão que se cria e se absorve pela incompaixão, esta é a realidade, uma vinda, uma volta, um acaso, um sorriso, um desastre ou um abafo.

Leis para se viver, olhos para julgar, palavras que nos invadem e palavras que de nós são roubadas. Quem viveu, talvez nasceu morto. Quem morreu, talvez nascerá. Quem já nasceu morto é o protótipo de muitos que aí estão.

Amar, odiar, se enlouquecer pelo passado e dele tentar se livrar. Lembrar, ressaltar os sonhos como num delírio erótico, o gozo, o cheiro, a pele, a essência de um espírito que ora clama, e que ora se sacia, a cromática batalha sensual dos sexos. A vida seriam momentos, seriam fatos de uma relativa expressão, seria um jogo, seria o acaso.

Somos a virtude, a depressão, a instabilidade de podermos nos assumir e nos repudiarmos quando bem nos convém. Somos a sanidade, a destreza, a certeza de consumirmos e sermos consumados quando nos distraímos. Somos a culpa, a vergonha, a lascívia encontrada na armagura de um perdão ausente.

Na trilha da emancipação de nós pelo tudo ou pelo nada, nos olhamos, nos acariciamos, nos debatemos, nos perdemos pelo não entendimento. Ora sensualidade, ora afinidade, ora medo, ora trauma, ora elegemos poucos momentos como os cruciais, fazendo o todo se perder num universo sem faces e sem vontades.

A luz, a certeza, o brilho que acena para a eterna soberania está onde sempre esteve, vigiando o portal das grandes aventuras, sendo monitorado pelos gnomos de nossa essência: o olhar, mas não um olhar comum, o olhar que se apodera de nossas almas, o olhar que nos despe na tentativa de nos ignorar, o olhar que revela não só a gratidão como também a anunciação do que é, do que pode, do que é belo e do que é correto para os nossos passos.

Houve grandes mercenários em estórias remotas, bárbaros que trilhavam rumo aos seus reinos, seus fetiches e suas causas. Houve fadas que com um toque mágico transformavam a simplicidade na luxúria que tanto seduz. Houve amores, que abafados seguiram na eternidade sob o juramento de uma reconquista. Houve o tudo, que não proibia a expressão e a anunciação das almas realmente capazes, dos rostos que sempre se alocariam nas mentes de pessoas com afinidades reais. Houve o nada, que junto ao seu irmão antônimo, buscou uma real explicação para a vida, para os gestos, para o amor e para os sonhos.

Quanta coisa poderia ser dita com a simbiose de mentes que se encontram num universo pessoal intransferível, quanta graça surgiria de fatos que se anunciam por vontades, perdão para os que foram renegados, compaixão para os insolentes, amor para os cativos, felicidade para os que em algum momento se encontraram tristes.

Que vida, às vezes bela, às vezes vazia. Que honra, estar pra si e pra todos. Que energia, poder ser algo, querer ser um ser que se eleva a cada dia na jornada pela curiosidade. Somos sonhos, somos erros, somos sábios e bandidos de nós mesmos, somos a graça de um sorriso, somos uma distância pequena entre duas almas, duas virtudes, uma única experiência, uma única força, o eterno esplendor do karma chamado “vida”.

Flyinghard
Enviado por Flyinghard em 16/09/2014
Código do texto: T4963769
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.