Encontro

Depois de uma hora e meia de conversa, três copos bebidos, cinco tentativas de melhorar o assunto e uma porção de batata frita devorada, limpei os lábios com o pulso e levantei. Ele perguntou se estava tudo bem. Respondi que sim. Agradeci pela confirmação de que estou incontentável demais para esse tipo de papo e, enquanto tirava dinheiro da carteira para dividir a conta, disse que o motivo por quase não ter falado é que, assim como eu não entendo sobre os melhores vinhos nacionais e importados, ele não entenderia sobre os melhores poemas do Poe ou, assim como eu não ligo para quem matou o romantismo, ele não liga para quem matou o Joffrey.

Ele perguntou quem era Joffrey.

Eu sorri.

Ele se desculpou por ser tão tagarela e propôs que falássemos sobre o que eu desejasse.

Eu disse que perdi a vontade de conversar.

Ele exclamou que eu estava sendo injusta e que, ao menosprezá-lo por tão pouco, me tornava mesquinha.

Peguei em sua mão e disse, sem o menor traço de riso na voz, que não o menosprezo por ser diferente de mim ou por gostar de hortelã no suco de abacaxi, mas que enquanto estamos aqui, tentando formar um dialogo funcional, poderíamos estar gastando melhor nosso tempo.

Ele não disse nada, mas deixou um bilhete na manhã seguinte.

''Formamos uma boa dupla quando estamos na horizontal''

Fernanda Oz
Enviado por Fernanda Oz em 16/09/2014
Código do texto: T4964757
Classificação de conteúdo: seguro