Por Nós Mesmos

Na harmonia de um acaso, as tentativas de um ingresso nos prazeres de um mundo obscuro, o menestrel de uma audácia pertinente se vangloria por fazer, por sanar, por reencontrar os orifícios de uma vontade que não quer calar... O que procurar em lugares invisíveis ao bem astral? Qual caminho seguir, quando o que se quer é amar? Na expectativa de uma vida que sempre caminha em prol de uma cromática salada de virtudes, o sanatório, além de abrigar vontades que se confundem, abriga também a real satisfação de um sorriso, de uma luz, de um corpo que quando cativo, se distancia das reais pretensões que pensamos ter.

Quando descem as cortinas do espetáculo, o show ainda não acaba. Os bastidores são completos de artimanhas que retratam o outro lado: na fachada o indecifrável estar bem, dentro de paredes caladas e frias, a consulta ao interno medo de nós mesmos, nossas vontades, nossos anseios, nosso pensamento que nunca morre, que nunca nos deixa, que sempre nos lembra bons e maus momentos.

O que se quer é entender um mundo cheio de particularidades. Minhas, suas, de uma coletividade que sempre se torna um corpo sólido, de uma festa regada a tumultos gostosos, de um prazer crescente que trava uma batalha medieval com a modernidade, de tudo o que é possível e de todos que se fazem plausíveis. Quando se conhece o interior de alguém, se tem um mundo a ser desvendado, uma troca de afeições que realçam o interesse de se manter conectado a novos valores, estes a calma de um encontro que se torna parte de nós.

Temos um no outro como uma tatuagem que nunca nos deixará, passam-se dias, meses, anos, vidas, mas o encontro é eterno e sempre se gradativa na perfeição. Hoje um pouco, amanhã um momento de loucura que nos satisfaz, sempre em direção ao quero mais, quero sanar as chagas de um mundo involuntário, somos as peças de um jogo que os dados não param de rolar, de uma vida em constante mutação, de um prazer ascendente que nos excita só de pensar.

O que se quer é amar num mundo totalmente íntimo, cada jeito, gafe, sentimento, uma palavra de conforto em momentos difíceis, um eterno desmantelar de realizações que cabem a duas pessoas tornarem uma realização a vontade mútua de um conhecimento plural.

Já houve dias de emoções ardentes na vida de qualquer narração romancista, já houve glamour na sedução de um guerreiro por sua “rainha”, já houve vida na morte que se aproxima, aqui, ali, em qualquer lugar que nos encontramos; na certeza de um bem querer, no suspiro de uma dama apaixonada quanto ao seu amado, na incerteza de olhar nos olhos de algo que de tão perfeito nos causa medo.

O que é o real? O que é se guardar para se preservar? O que é buscar o apoio errado? Orquídeas são belas, porém sua beleza depende de um cuidado peculiar ao amor de seu jardineiro. Não se mistura o belo ao feio, como também a plenitude do eterno procurar por algo que não se sabe distinguir. Quer-se realçar a carência se tornando carente, a idade de um corpo que pensa se associar à atitude. Será? Quer se ter alegria, mas a energia de um dia, se resume ao anonimato, estar sozinho mesmo rodeado de amigos, estar feliz pela felicidade dos outros, se emancipar pela razão e não pela emoção.

A realidade é encontrar a felicidade que nos bate a porta, que nos sucumbe, que nos penetra como o afago de um corpo que deixa um perfume eterno em nossas entranhas, em saber, em nossa seleção pelas coisas boas e perfeitas, em realçar as intenções. Quão gostoso é olhar para alguém com quem se vive alguma coisa em comum. Os olhos nunca mentem quando são sinceros, o calor sempre realça a verdade que tentamos esconder, o beijo, o cheiro, o toque, a emoção de um sentimento que nunca podemos deixar para trás, a “vida real” que conquistamos e que não podemos deixar morrer, mundos diferentes que se encontram e que se unem em prol de uma celebração celestial: por tudo, por todos, por nós mesmos.

Flyinghard
Enviado por Flyinghard em 18/09/2014
Código do texto: T4966359
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.