Raspas

Mostrar seu ponto de vista a cada dia é mais complicado, pois nem todos entendem o que você sente e verdadeiramente quer mostrar. Sua dor, seu medo, sua fraqueza, sua ilusão, seus sonhos, suas alegrias, suas necessidade de momento. Tudo se tornam apenas erosões que gradativamente vão abrindo crateras no peito, machucando ainda mais o coração. Se calar, o silêncio perturba! Se falar, as palavras agridem! Refugiando-se em seu canto, a síndrome do pânico lhe arrebatou. Se sair correndo, pelado pela rua, pronto. Tem que interná-lo de vez, endoidou a criança. E as lembranças? Vão se perdendo no passado. E a esperança? Vão se enfraquecendo a cada instante. Mas não, nem tudo está perdido! Vem àquela voz, que você pensa ser imaginaria, do além, ou de algum anjo ou demônio a lhe dizer: você é forte. Então você olha no espelho e vê seu reflexo, seus olhos caídos, sua pele enrugada, seus dentes amarelados, cabelos esbranquiçados, suspiro fraco, cansado. Percebe-se que todas aquelas vozes eram suas e todos aqueles pensamentos eram seus.

Porém nem todas as vontades eram suas. Passamos oitenta por cento de nossa vida fazendo o que não queremos fazer, quinze por cento agradando os outros para não magoá-los, três por cento se magoando, dois por cento respirando para não agredir. Por que tudo isso? Não existem porquês, só existe uma razão, a busca da tal dita felicidade. E a felicidade? Alguns dizem que não existem que são momentos felizes que se tornam eternizados. Hoje guardo esses momentos. O beijo de minha mãe, a primeira namora! A primeira relação amorosa, os primeiros filhos, a casa em festa, nos finais de ano. E continuo com o mesmo sentimento de antes. Sinto-me perdido, sem um Arão, pois tudo se tornou fins. Abraçando minhas idéias, fico somente com as recordações. Morto por fora, mas vivo por dentro, porque de agora em diante serei eu no caminho ouvido a voz de Deus, e no mais tudo será raspas...