Latifúndio.

Já há algum tempo atrás, vi num sebo em BH, um livro que me chamou atenção. O que mais despertou minha curiosidade foi o título da obra; “Nas Terras do Rio Sem Dono.” O autor, Carlos Olavo da Cunha Pereira, narra com riqueza de detalhes a via sacra dos posseiros do Vale do Rio Doce nos anos 50 e 60, enfrentando os bárbaros grileiros. Destaca-se entre os facínoras , um de nome Paládio Ruz “pseudônimo.” Falavam ser este latifundiário dono aproximadamente de dez mil alqueires de terra. Havia também O coronel Isaltino Fachada “pseudônimo.” O primeiro, o conheci pessoalmente. Carlos Olavo o descreve com fidelidade as características físicas do famoso latifundiário. Ele tinha aparência de mendigo em suas vestimentas e trejeitos. Diziam que em suas vastas pastagens nasciam um mil bezerros por mês. Bem, esta parecia uma forma dos pobres fazer propaganda da riqueza dos abastados.

Era também famoso o latifundiário já citado, coronel Isaltino Fachada, não sei se militar ou patente comprada. Só sei que pequenos fazendeiros, sitiantes e lavradores borravam nas calças de medo dele. Em que o coronel entendia como respeito. Corria até uma história de que o coronel ao passar com seu jipão por um lavrador capinando sua rocinha a beira da estrada, travou-se o seguinte diálogo : “ você fuma?” Perguntou o coronel. .. O lavrador tremendo e branco de susto respondeu: “ ieu fumo sim sinhô,mas se vosmicê num quisé qui ieu fumo, ieu páro! ...” O coronel queria apenas filar um cigarrinho de palha.

Em sua obra, Carlos Olavo só menciona latifundiários influentes na Assembleia Legislativa, no Poder Judiciário e na Polícia. Em escala menor, conheci de nome outros terríveis grileiros. Um deles, que se apossou de uma vasta extensão de terras em Jampruca, juntou-se com um engenheiro corrupto que, depois de usar um teco-teco , forjou um mapa de suas presumíveis terras, o que redundou em uma escritura, daí expulsando posseiros de mais de vinte anos assentados ,destelhando casebres que abrigavam doentes, crianças, idosos e mulheres grávidas, diziam que os” bate-paus” civis que auxiliavam a polícia, gritavam: “ vai pari no mato!...” Os mais resistentes eram assassinados.

A igrejinha do Veio Jorge em Jampruca era o lugar onde jogavam os cadáveres. Tudo era feito com aquiescência da polícia local.

Por isso e muito mais é que não se pode entender a ênfase com que a grande mídia dá na defesa dos latifundiários contra os sem terras.

Lair Estanislau Alves.