E na praça a vida acontece
Virei ultimamente observadora enfadonha do gesto do outro, o mundo do outro passou a me interessar como se dali tirasse respostas para o meu bem estar e as minhas vertigens. Isso tornou-se tão agudo, que ao acompanhar certas cenas, antes dos desfechos, eu já apostava: lágrimas, risos, indiferenças... travei uma batalha tão intensa com a vida, como a pedir justificativas sobre isso ou aquilo, eu ou outros existirem...
Passei o inverno a contemplar as flores molhadas e quietas, minhas mãos enrugadas e inquietas, mas não desanimei, esperei a próxima estação que nunca vinha, pois sempre havia algo de errado, e eu apostava na próxima, próxima parada, próxima pessoa, próximo deslumbre, próxima estação colorida da ferrugem que resolveu marcar presença sempre que eu ia ao espelho. Então para me livrar de mim, de minhas perguntas estúpidas, sobre o tempo, sobre amar, viver, partir... resolvi beber da fonte que escorria da felicidade das pessoas, daí, passei a aplaudir grandes gestos, ser indiferente com os estúpidos, protestar contra os atos de desamor contra uma flor, um animal, uma criança. Percebi finalmente, que meu casulo estava ultrapassado, assim como estava ultrapassada, minha forma de falar de poesia. E para não ficar mudo, parar no meio do caminho, e ter que escolher entre morrer ou se sentir morto... decidi partir rumo à praça, onde a vida acontece.