Na celebração da liturgia católica de Nossa Senhora Aparecida o Evangelho da missa escolhida para essa festa é a história das bodas de Caná (João 2, 1- 12). A festa de casamento na qual Jesus transformou água em vinho foi o primeiro sinal que ele deu aos discípulos a respeito de sua missão e de sua identidade de enviado de Deus. Penso que esse evangelho foi escolhido para dizer que na vida do povo católico brasileiro a imagem de Aparecida foi também um sinal do amor divino e da proteção que Deus quer nos dar, através dessa relação dos fieis com Maria. 
    É bom pensarmos a fé como uma festa de casamento, mesmo se a nossa relação com Deus deveria ser mais íntima ainda e mais interior (Deus em nós) do que um ato conjugal. De todo modo, a alegria, o amor e a imagem da fecundidade presente na festa de casamento são parábolas da nossa aliança de intimidade com Deus. E o vinho abundante e sem medidas é também um sacramento dessa alegria ou dessa embriaguez de amor. 
    Às vezes, ao pensar na devoção do povo católico a Maria, penso que o objeto dessa devoção é uma imagem feminina e maternal de Deus e não tanto em si a figura histórica da mãe de Jesus. E assim como na parábola das bodas de Caná, Maria faz com que seu filho antecipe sua hora (sua missão e o anúncio de sua Páscoa) só para dar alegria e restituir a dignidade a uma família pobre que não tinha mais vinho para a festa, também, hoje, essa relação filial com Maria é instrumento da relação de aliança pascal com Deus, através de Jesus.