SUSTO E TENSÃO NA OBRA

O Jão Aquino (Zoza), já contava com vinte e sete anos quando pegou, de empreitada, a reforma do terraço de um prédio de cinco andares.

No topo ele montou um andaime, no qual adaptou uma roldana para a movimentação vertical do entulho, terra de jardim e plantas, bem como para movimentação do material.

Para esse trabalho ele contava com a ajuda de dois companheiros, pessoas muito boas, mas que tinham suas limitações: um era daqueles ignorantes, que não aceitava opiniões e o outro, ingênuo, sem maldades.

Visando facilitar os trabalhos de remoção dos resíduos, o Zoza improvisou um dispositivo composto de um pedaço de carpete de mais ou menos 2 metros de largura por 3 metros de cumprimento, tendo amarrado em cada uma das pontas uma corda bem forte.

O artefato ficou assemelhado a um paraquedas invertido.

O ajudante ignorante encheu o carpete de tudo quanto pôde e falou: “ô Luiz carpinteiro, esse trem tá muito pesado hein?!”. Para o quê o Luiz carpinteiro respondeu: “preocupa não sô, o Jão é forte!”. E os dois mal aguentavam arrastar o fardo.

Ao posicionar o artefato no ponto de soltura, o Luiz carpinteiro gritou: “Õ Jão, tá muito pesado hein!”.

Então, pensando estar lastreado em seus sólidos setenta e dois quilos, o Zoza concentrou-se para suportar e controlar a descida da primeira remessa, a qual imaginava conter, no máximo, uns sessenta quilos.

Não foi o que se sucedeu. Foi tomado por um súbito arranco e quando percebeu, já estava no limite do primeiro para o segundo andar, ou seja: já havia subido a altura dos pilotis e do primeiro andar. Portanto, cerca de seis metros me distanciavam do chão.

Aconteceu tão rapidamente, que não deu tempo sequer de ele se livrar da corda que o ligava àquele invólucro carregado com aproximadamente cem quilos de resíduos de jardineiras.

Pareceu-lhe que foi alvo de uma descarga tão brutal de adrenalina, que, embora não seja do seu perfil, teve a destreza de pensar e agir tão rápido quanto rápida era a sua subida. Isso porquê, na mesma velocidade em que ele subia, todo aquele pesado e volumoso artefato descia em sua direção.

E como é fantástica a natureza! Como ela nos provê de meios para nos safarmos de situações inesperadas! Não se passaram dois segundos entre a ha “decolagem” e o temido impacto com o denso objeto em queda e ele conseguiu, ainda a caminho, engenhar um meio de sair da sua rota. Fração de segundo antes do mortal encontro, fez um movimento brusco e a mão de um anjo o projetou para fora da trajetória daquele impiedoso fardo.

Mas ele continuava subindo a uma velocidade indescritível e a roldana, em associação com a corda, não deixariam por menos: extirpar-lhe-iam os dedos ou os esmagariam. E a escolha não era dele. O que competia a ele, era encontrar meios de não permitir que o flagelo se consumasse.

É inacreditável e assustador, como em alguns pouquíssimos segundos, quatro a cinco, nós sejamos capazes de fazer tantas reflexões.

Aguardou ansioso o momento exato que antecedia o debilitante contato com a roldana, e, no preciso instante, soltou a corda e se abraçou à peça de madeira que sustentava a roldana.

Ficou ali, abraçado àquela tábua da salvação e com o corpo pendulando, por talvez a mesma quantidade de segundos da subida, dando graças a Deus por ter escapado daquela.

Com muita dificuldade e com a ajuda dos seus companheiros, conseguiu subir ao topo do andaime. São e salvo, embora com os braços, axilas e barriga bastante esfolados.

Recuperados do susto, o Luiz carpinteiro gritou: “ô Jão, pena que a Rede Grobo não tava aqui prá filmá”.

De fato, não tivesse sido tão real, bem que poderia ser uma cena de algum daqueles exagerados filmes americanos.

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 13/10/2014
Reeditado em 15/10/2014
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