Obituários.

Não gosto de lê-los. Mas, viro a página e estão lá.
Não consigo interromper, não correr os olhos, e, de uma hora pra outra me pego a ler um menor que mal cabe a palavra “saudades”... Outro mais ao canto.  Será velado na “DIVINA PENITÊNCIA” sepultado em jazigo da família as...
Já vou indo virar a folha, tem um e outro e outro... Olho um que é quase meia página. O nome cheio de “S” e “R” decido por decifrar mais não consigo. É algo assim “ESTRASBUZZINSKINSRRRHOS”, Prefiro interpretar como “Ynstrawisks”, ou, Stanislaw. Desisto!
Descrevem os sentimentos de parentes, amigos. Netos, bisnetos. Que deixam A... B... C..., etc.
Capela, horário. Umas ilustrações de cruzes, estrelas, estão também na página. Estas têm essa característica.
Leio, mais um ao centro. Fala somente de missa, mas um ao lado é um sepultamento bem aqui perto. Chama-me atenção a denominação da capela “CAPELA DO PERPÉTUO SOCORRO”.  Fica ecoando nas minhas conjecturas, o... PERPÉTUO SOCORRO!...
Eu que não gosto desta secção, não sei o porquê? Acabo por ler toda ela... Não consigo expurgar de minha atenção. Fico ali salteando, contando idades, fazendo comparações, e os comunicados fúnebres que mais parecem homenagens a alguém que foi beatificado se multiplicam...
Os ritos formais enojam mais ainda a sua continuidade.
Penso nos indigentes, nos desaparecidos, vítimas em campos de batalha não resgatados. Os sem condições financeiras... Todos àqueles que nunca estarão ali. Estes embora mortos e significativamente importantes para os seus, não terão mementos públicos e nunca os lerei no obituário; é como se nunca tivessem vivido, ou morrido.
O jornal de hoje, ainda não li. Acho que não publicam neste dia.
Será que hoje ninguém morre, ou é enterrado sem anúncio! Bem pelo sim e pelo não... Se por acaso deparar com ele “o Obituário”, vou pular! É insuportável entreter-se com a vida resumida dos outros em necrológios.
 
Nota: Os nomes aqui citados são meramente ilustrativos e frutos da imaginação mórbida, qualquer semelhança será coincidência. Perdoem o mau gosto.



 
Adonis Yehrow
Enviado por Adonis Yehrow em 13/10/2014
Reeditado em 13/10/2014
Código do texto: T4997484
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