Tirando onda

Se o título de campeão baiano não veio, pelo menos o time honrou o nome na história do futebol. Nunca houve tanta manchete em jornal. Páginas inteiras foram escritas com notícias do time e da cidade. Até o jornal A Tarde publicou a minha coluna sobre Atlético e Bahia de Poções, com direito a foto do nosso glorioso time.

Eu não perdi a oportunidade de fazer o marketing futebolístico. Fui para a Fonte Nova assistir aos dois jogos contra o Bahia. Pulei comemorando os gols da primeira partida e bem no meio da torcida contrária. Danem-se os adversários – o juiz roubou mesmo! De casa, torcendo pelo Poções, meus amigos me ligaram pra dizer que a bola entrou.

No segundo jogo, vi a torcida xingar o goleiro Ewerton imitando o saci. Só não vi no estádio, os torcedores do Poções, os que moram em Salvador. Afinal, o estádio não estava cheio e era fácil identificar. Justiça seja feita – eu vi apenas Vassil Landoaldo Schettini, só que ele estava no anel inferior e eu no superior. Pra vocês que não sabem, Vassil foi um dos grandes mestres do apito dos jogos de Atlético e Bahia.

Enfim, o Poções de 1985 está na mesma série “C” do Bahia de 1931. A vida é assim, quando uns choram, os outros sorriem pelas mesmas causas.

Depois que o Bahia perdeu as suas chances de conquistar o campeonato por causa do Poções contra o Vitória, reforço as minhas crenças que as vaias dadas ao nosso time foram mesmo de inveja. Um tricolor feito às pressas, dava tanto trabalho ao outro, o de aço. É verdade, são dois tricolores de terceira divisão!

Pode investir Dr. Almino, o time é bom e a propaganda da cidade fica barata. Tem que aumentar o gramado, pois a equipe joga diferente e tem outra qualidade de futebol num campo maior.

Se na semana passada “fiz fole”, nessa semana eu “tirei onda”. Estive em Juazeiro na terça-feira e bastava encontrar algum juazeirense para perguntar: “E aí? e o Poções?” O cara ficava puto.

Primeiro no hotel, quando o cidadão abriu um apartamento já ocupado. Vi uma bola ao lado de uma das camas: “Deve ser do time do Poções, não é?” o cara respondeu com a fisionomia fechada – “Poções já não está com nada”.

O garçom da Barraca do Caldo, debaixo do primeiro vão da ponte que vai para Petrolina, foi a outra vitima. Serve um excelente caldo de carne na tigela, acompanhado de ovo de codorna e cachorro quente, que é bastante forte e se chama “Cabeça de Galo”. Eu perguntei, “foi esse caldo que os jogadores do Poções tomaram depois do jogo contra o Juazeiro e fez efeito contra o Vitória?” Quase apanho. O garçom chorou as pitangas e o vidro de pimenta também.

Mas é isso, aquele caldo na festa do Divino ia fazer um sucesso.

Na volta, pra não perder o costume, parei no RSSilva de Capim Grosso e fui ver os preços “módicos” dos produtos: – Domecq de R$ 48,00, Campari de R$ 43,00, Pitú de R$ 20,00 e, pasmem, pacote de camisinhas com 3 unidades, da pebona, por R$ 10,90. Aí eu tirei onda com a atendente – “realmente, tem que ser caro mesmo. Quem quiser transar dentro de ônibus tem que pagar o luxo”.

Parabéns ao time do Poções, parabéns para a nossa cidade! De alma lavada eu continuarei tirando onda! Tenho que ir a Alagoinhas mas vou esperar mais um pouco - ainda não digeri os 5x1.

Luiz Sangiovanni
Enviado por Luiz Sangiovanni em 24/05/2007
Reeditado em 24/05/2007
Código do texto: T500068